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Filipe Oliveira: Paranoia injustificada

Kataguiri vê esquerdismo em tudo de que não gosta

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Kim Kataguiri, coordenador do  MBL, durante entrevista à Folha, em 2016
Kim Kataguiri, coordenador do MBL, durante entrevista à Folha, em 2016 - Eduardo Knapp/Folhapress

No último dia 30/5, fui surpreendido por artigo de Kim Kataguiri, fundador do MBL (Movimento Brasil Livre), publicado neste espaço. Seu texto buscava apontar como a imprensa, de um modo generalizado, e eu, em particular, usamos artifícios do jornalismo para esconder uma suposta militância esquerdista.

Minha primeira reação foi admirar a presença de espírito de quem me atacava. O texto de Kataguiri começava com uma paródia da reportagem "Ódio na internet tem assumido estilo de meme para atrair jovens", assinada por mim em 20/5. 

Nela, foram relatados trechos de discussão que aconteceu em São Paulo durante o Festival Path, que versou sobre diferentes tópicos de áreas como tecnologia, publicidade e inovação.

A narrativa de Kataguiri seguia a mesma estrutura do texto original, mas trocava os membros do debate por Joseph Goebbels, ministro da Propaganda nazista. Com frases absurdas, ele criticava a militância esquerdista na imprensa.

Seria cegueira de minha parte não achar divertida a amostra de como o estilo jornalístico pode ser usado para expressar fantasias. 

A tranquilidade com a crítica de Kataguiri seguiu até o fim da leitura, menos por ter me divertido com o gracejo do autor do que pela falta de sentido das acusações.

A tentativa de rotular meu trabalho como a serviço de algum interesse partidário não resiste a uma pesquisa nos arquivos desta Folha ou em minhas redes sociais --a segunda busca deve ter sido feita, como é de praxe quando o grupo de Kataguiri decide atacar um jornalista.

Em quase sete anos no jornal, dediquei a maior parte de minhas energias a apresentar o universo de startups e inovação que tenta florescer no Brasil, a despeito de todos os desafios. Dei voz a uma centena de empreendedores e investidores insuspeitos de tramarem alguma revolução socialista.

No caso da reportagem em particular que incomodou Kataguiri, lembro que é uma reprodução fiel ao conteúdo do debate que presenciei. Não gostarmos do que um grupo fala não significa que o discurso dele não deve ser publicado, inclusive para que possa ser criticado e, se for o caso, desmascarado.

Em vez de entrar na disputa com bons argumentos, Kataguiri deu voz ao sentimento paranoico que vê a militância esquerdista em tudo de que não gosta. Preferiu atacar o mensageiro.

Assim como o jornal acreditou ser importante acompanhar o festival, tenho certeza de que também tem interesse em registrar em suas páginas o que representantes da nova direita pensam; caso contrário, Kataguiri não teria assinado uma coluna por mais de um ano no jornal.

Nem sempre é fácil. Em novembro do ano passado, o MBL barrou a entrada da jornalista Anna Virginia Balloussier em seu 3º Congresso Nacional, como se pode ver em texto desta Folha do dia 11 daquele mês.

Se o que Kataguiri e o MBL esperam é realmente jornalismo feito com seriedade, que apresente ao público as discussões trazidas pelos mais diversos grupos, contem comigo no encontro de 2018.

Filipe Oliveira

Na Folha desde 2011, é repórter de Mercado. É formado em música e assina o blog Haja Vista

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