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O jogo de Putin

Encontro com Trump enfraquece esforço de parceiros dos EUA em isolar o chefe do Kremlin

O presidente russo, Vladimir Putin, durante reunião no Kremlin, em Moscou
O presidente russo, Vladimir Putin, durante reunião no Kremlin, em Moscou - Alexei Druzhinin, Sputnik, Kremlin/Associated Press

Sejam quais forem os assuntos abordados, a primeira reunião bilateral formal entre Donald Trump e Vladimir Putin, marcada para 16 de julho em Helsinque, na Finlândia, se mostra mais vantajosa para o presidente russo.

Afinal, um encontro privativo com o principal líder do planeta, sem a concorrência de outras autoridades em fóruns multilaterais, enfraquece sobremaneira o esforço de parceiros americanos na Europa em isolar o chefe do Kremlin por sua política externa abrasiva em várias frentes, do apoio à ditadura síria à tomada da Crimeia.

A ausência de mandatários das grandes potências na abertura da Copa do Mundo, em Moscou, evidenciou o boicote diplomático, mas Putin não tem muito do que se queixar do torneio. A afluência de turistas e a organização por ora sem sobressaltos (como um eventual ataque terrorista) geram boa repercussão no exterior.

Ademais, o selecionado nacional ostenta surpreendente campanha, o que desencadeou uma onda de otimismo na população. A diminuta oposição acusa o governo de ter aproveitado o clima festivo para enviar ao Parlamento propostas impopulares, como o aumento da idade mínima de aposentadoria.

Fortalecido internamente, reeleito com 77% dos votos em março, o líder russo terá, um dia após o término do Mundial, uma oportunidade de lustrar a imagem externa que lhe vinha sendo negada. E nenhuma companhia poderia ser mais adequada para uma circunstância assim como a de Trump.

Ora, o chefe da Casa Branca há tempos defende o diálogo com a Rússia —posição bastante compreensível, dada a importância geopolítica do país. Entretanto ele o faz em termos que desagradam a seus aliados europeus, isso quando não entra em desacordo com as próprias instituições americanas.

Tome-se o exemplo do já quase caricatural endosso do republicano ao argumento do Kremlin de que não tem nenhuma ligação com as evidências de interferência nas eleições dos EUA em 2016.

Por repetidas ocasiões, disse não ver por que desconfiar de Moscou, desqualificando, assim, seu serviço de inteligência e o FBI. Para os investigadores, não há mais dúvida de que hackers russos agiram no último pleito; o que se apura é o papel da campanha republicana em um suposto conluio.

Com um interlocutor propenso à docilidade, Putin deverá manejar como lhe convier os temas mais desconfortáveis da agenda. Desta vez, não faria mal se o temperamento volátil de Trump trouxesse algo de inesperado à reunião.

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