Descrição de chapéu

O senhor do Rodoanel

Prisão de ex-presidente da Dersa cria novos embaraços para o tucano Geraldo Alckmin

Obra no trecho norte do Rodoanel, na altura da rodovia Fernão Dias, em São Paulo
Obra no trecho norte do Rodoanel, na altura da rodovia Fernão Dias, em São Paulo - Danilo Verpa/Folhapress

A operação da Polícia Federal que prendeu na quinta (21) Laurence Casagrande Lourenço, ex-presidente da Dersa, deixou mais uma vez o ex-governador paulista Geraldo Alckmin em situação difícil.

O pré-candidato do PSDB à Presidência da República viu-se constrangido a dar declarações para defender sua gestão e apoiar as investigações, como já fizera outras vezes —assim se deu na prisão de Paulo Vieira de Souza, o Paulo Preto, ex-diretor da mesma Dersa, estatal que administra rodovias.

No caso deste último, Alckmin pôde dizer que não se tratava de personagem de seu círculo e que determinou apurações na empresa. Quanto a Lourenço, porém, a situação é mais complicada.

Este, afinal, vinha ocupando o comando da Companhia Energética de São Paulo (Cesp), depois de ter sido secretário estadual de Logística e Transportes de maio de 2017 a abril passado. Sua passagem pela Dersa, de janeiro de 2011 a maio de 2017, está longe de ter sido breve.

Tal currículo explicita ligações duradouras entre o ex-governador e o suspeito de ter se envolvido com operações fraudulentas na companhia, por meio de adendos contratuais irregulares nas obras do trecho norte do Rodoanel. Polícia e Ministério Público estimam prejuízos de cerca de R$ 600 milhões. 

Além do ex-presidente da estatal, foram presos sete servidores e ex-funcionários. Na outra ponta do esquema, teriam sido beneficiadas as construtoras OAS e Mendes Júnior, ambas investigadas pela Operação Lava Jato.

As apurações sobre os desvios datam de 2016, quando um ex-empregado de uma empresa que participava da obra apresentou uma denúncia em depoimento à PF.

Ouvido posteriormente, Emílio Urbano Squarcina, ex-gerente do Rodoanel, confirmou que havia surgido na Dersa a estratégia de mudar o valor do contrato de modo irregular. Ele relatou ter resistido a pressões para elevar os valores e perdido o cargo.

De acordo com o Ministério Público, os aditivos foram mantidos mesmo depois de um laudo em contrário emitido pelo Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT), órgão vinculado à Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Ciência, Tecnologia e Inovação.

Com dificuldades para conquistar percentuais mais expressivos nas pesquisas de intenção de voto, Alckmin e seu partido encontram embaraços óbvios para sustentar um discurso anticorrupção —não bastassem os episódios paulistas, há a tibieza no tratamento do senador Aécio Neves (MG), seu último candidato ao Planalto.

Para agravar os problemas, o trecho norte do Rodoanel não será entregue no prazo prometido. Marcada de início para 2014, a conclusão da obra ficará para 2019, na melhor hipótese. Nem se pode dizer, aliás, que atrasos do tipo sejam incomuns na administração tucana.

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