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Troca de comando na Petrobras acentua temores de retrocesso na recuperação da estatal

Pedro Parente, que deixou o comando da Petrobras - Adriano Machado - 19.mai.2016/Reuters

Pelos motivos e pelo momento, a saída de Pedro Parente do comando da Petrobras gera efeito inicial desastroso para a imagem da empresa e o que resta da credibilidade do governo Michel Temer (MDB).

Não se trata de endeusar a figura do executivo, nem de imaginar que sua gestão fosse imune a falhas ou excessos. Fato é que, voluntária ou forçada, sua demissão revela a estatal novamente vulnerável a injunções de Brasília

Na véspera via-se o chefe da Casa Civil, Eliseu Padilha, a ameaçar com multas postos que não baratearem o óleo diesel. O que parecia um retorno aos fracassados controles dos anos 1980 era nada mais que um desdobramento da recente interferência na política de preços da Petrobras.

Esta pode, sim, ser debatida e aperfeiçoada. O que houve, porém, foi um congelamento decidido de afogadilho, sob a pressão da paralisação dos caminhoneiros —à qual se somaram sindicatos, entidades patronais, parlamentares e pré-candidatos de diferentes correntes ideológicas.

Nos últimos dois anos, durante a gestão de Parente, empreendeu-se um esforço bem-sucedido para tirar a Petrobras do fosso ao qual fora atirada por uma combinação de investimentos tresloucados, corrupção generalizada e represamento populista de preços.

A estratégia de repassar automaticamente ao mercado doméstico as variações da cotação internacional do petróleo teve papel fundamental na recuperação da empresa, que deixou para trás quatro anos consecutivos de prejuízos.

Entretanto o encarecimento acelerado do produto e a alta também aguda do dólar tornaram por demais amarga a dose do remédio. De súbito o governo se encontrou sem respostas para uma insatisfação que ganhou o apoio da maioria do eleitorado nacional.

Consumado o erro político, cumpre agora evitar o pior. Eventuais ajustes da sistemática de preços não podem significar o retorno a controles irrealistas que, cedo ou tarde, sacrificam o contribuinte.

Há que examinar com seriedade a alta carga tributária incidente sobre os combustíveis, que envolve também os impostos estaduais.

A posição monopolista da Petrobras no refino, além disso, a torna senhora do mercado e alvo da demanda por intervenções de todo tipo. Liberalizar o setor e fortalecer sua agência reguladora seriam medidas na direção correta.

Infelizmente, nada disso se resolverá no curto prazo. Por ora, importa afastar os temores de novos retrocessos na administração da maior empresa brasileira.

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