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Pelo telefone

Aparelho está no fulcro do serviço TelessaúdeRS, para acelerar diagnósticos e tratamentos

Equipe na sede do TelessaúdeRS, em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul
Equipe na sede do TelessaúdeRS, em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul - Marcos Nagelstein/Folhapress

O SUS nasceu com a Constituição de 1988 e foi nela paradoxalmente batizado como Sistema Único de Saúde. A mesma Carta diz, no artigo 199, que “a assistência à saúde é livre à iniciativa privada”. 

Sem ter ainda resolvido os pontos nevrálgicos de interface com o setor empresarial, articulação e financiamento, o sistema público padece de uma ineficiência crônica que se mede pela extensão das filas de espera por consultas, exames e cirurgias. Um tormento para a população adoecida. 

À parte grandes discussões sobre modelos de atendimento que afloram em anos eleitorais, o SUS há muito precisa de um choque de inovação. E isso não implica adquirir os equipamentos complexos que tanto encarecem os planos privados, mas lançar mão de coisa tão prosaica quanto um telefone. 

O aparelho corriqueiro está no fulcro do serviço TelessaúdeRS, objeto de reportagem publicada nesta Folha. Trata-se de programa que uniu a Universidade Federal do Rio Grande do Sul, o governo gaúcho e o Ministério da Saúde para acelerar diagnósticos e tratamentos e diminuir as listas de aguardo. 

Nem sempre o médico generalista na ponta do atendimento primário tem condições, por falta de especialização, de resolver o caso no posto de saúde. Encaminha o usuário, então, para exames ou consulta com especialista que podem tardar semanas, até meses.

Com uma ligação para o Telessaúde em Porto Alegre, o profissional em dúvida ganha acesso instantâneo a especialistas de 15 áreas. Imagens podem ser enviadas por celular ou computador. Em 90 mil atendimentos do tipo já realizados pela central, 62% foram resolvidos. 

O serviço também tem sido utilizado para controlar as filas de espera já existentes. Debruça-se sobre os pedidos de encaminhamento, começando pelos casos mais graves e urgentes, para determinar se o exame ou o especialista solicitado são os mais adequados. 

No interior gaúcho, o recurso permitiu reduzir as listas em 47%, de 170 mil para 90 mil pessoas. Na quinta (28), a experiência será estendida a cinco capitais: Porto Alegre, Rio, Manaus, Maceió e Brasília. 

Nada disso, verdade, sanará a falta de profissionais, equipamentos e insumos de saúde onde houver carência deles. A capacidade de investimento, entretanto, só tende a se agravar em tempos de drásticas restrições orçamentárias.

A proposta generosa do SUS precisa menos de lamúrias e mais de busca inventiva pela eficiência para se firmar como esteio principal do direito à saúde, consagrado três décadas atrás pelo constituinte.

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