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Todo o poder a Erdogan

Protagonismo de presidente turco apresenta uma distorção de seu movimento político

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O presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, durante evento de campanha em Istambul
O presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, durante evento de campanha em Istambul - Alkis Konstantinidis/Reuters

Rodeada por ditaduras ou regimes autocráticos, a Turquia foi saudada como um modelo no Oriente Médio de convivência entre democracia e islamismo quando da ascensão de Recep Tayyip Erdogan e seu partido de feição conservadora moderada, o AKP (Justiça e Desenvolvimento).

Já se vão 15 anos, e só o protagonismo do mesmo Erdogan no comando desde então já apresenta uma distorção de seu movimento político. Ele é o favorito ao posto de presidente nas eleições gerais deste domingo (24). Se vencer, terá direito a disputar outro mandato daqui a cinco anos, o que pode estender seu domínio até 2028.

Nos primeiros anos de governo, o mandatário promoveu reformas que levaram a crescimento econômico, controle da inflação e redução da pobreza. Ganhou-se projeção externa, e o antigo desejo de integrar o país à União Europeia parecia próximo. Entretanto os efeitos colaterais de um projeto pessoal de poder acabaram por mudar o rumo da gestão.

Facilmente reeleito por duas vezes ao cargo de primeiro-ministro, Erdogan se viu diante da primeira grande contestação em 2013, em uma onda de manifestações liderada pela classe média secular.

Já se apontavam o cerceamento à liberdade de expressão e uma agenda de islamização do Estado, em choque com o preceito laico de Mustafa Kemal Atatürk, fundador da república turca que sucedeu a derrocada do Império Otomano. A partir dali, a veia autoritária se tornou mais evidente, assim como a insatisfação de seus opositores.

Uma fracassada tentativa de golpe, em 2016, tornou-se o argumento ideal para o governo empreender um grande expurgo: nas estimativas mais conservadoras, ao menos 50 mil pessoas foram detidas e 150 mil servidores públicos, de militares a juízes e professores, foram afastados. O estado de emergência declarado à época segue em vigor.

Por inevitável, a repressão se estendeu à imprensa livre. Nos dois últimos anos, quase 150 veículos foram fechados, e cerca de 250 jornalistas detidos, a maioria sob a vaga acusação de terrorismo.

Nesse ínterim, Erdogan fez manobras para se perpetuar. Patrocinou um referendo que mudou o sistema político do parlamentarismo para o presidencialismo —isso quando já era presidente, após ser impedido pela própria legenda de tentar um quarto mandato de premiê.

Agora, antecipou em mais de um ano o pleito, sob a justificativa de que é preciso pôr em plena prática as prerrogativas presidenciais.

A antes promissora democracia islâmica hoje se assemelha mais a regimes para os quais a Turquia era vista, no Ocidente, como farol.

editoriais@grupofolha.com.br

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