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Tormenta financeira

Parece consumar-se o temido cenário de aperto na política monetária americana

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Presidente do Fed, Jerome Powell, durante entrevista em Washington
Presidente do Fed, Jerome Powell, durante entrevista em Washington - Yang Chenglin/Xinhua

A economia está aquecida e quem quer empregos tem facilidade de encontrá-los. Com essas palavras diretas, Jerome Powell, presidente do Fed, o banco central dos EUA, resumiu a situação de seu país —e, no idioma próprio do cargo, indicou que os juros continuarão a subir.

Parece consumar-se, assim, o temido cenário de aperto na política monetária americana, que pode expor o cenário global a novos sobressaltos. A alta do custo do dinheiro normalmente dificulta o financiamento de empresas e países endividados em dólar.

Na nação mais poderosa do planeta, o quadro é de fato exuberante. O crescimento pode chegar a 3% neste ano (muito, para o mundo desenvolvido), com o impulso adicional de cortes de impostos e aumento do gasto público. 

O desemprego, de 3,8%, é o menor em quase 50 anos. Por ora, contudo, os salários ainda não dão mostras de grande aceleração, e a inflação permanece baixa, embora próxima da meta de 2% ao ano.

Por isso, o Fed continua a descrever os movimentos dos juros como graduais. Mesmo assim, sinalizou ao mercado que promoverá mais duas altas neste ano. A taxa alcançaria 3,4% até 2021, baixa para padrões históricos, mas o bastante para perturbar os negócios.

Os países emergentes têm sofrido pressão crescente. Argentina e Turquia são o alvo principal, pois dependem de financiamento em dólar. O Brasil, apesar de contar com reservas de US$ 380 bilhões, também enfrenta dificuldades. 

Aqui, a incerteza eleitoral num contexto de grande fragilidade das contas públicas já faz a demanda por proteção cambial subir.

O Banco Central tem respondido a essa pressão, mas não consegue estabilizar as cotações. Os juros de mercado dispararam, elevando o risco de uma recaída na recessão. 

Nada indica que a tormenta financeira sairá de cena tão cedo. O dinamismo da economia americana tende a persistir, e o afrouxamento orçamentário conduzido por Donald Trump pode pressionar os juros ainda mais. Na Europa, onde o momento também é favorável, o ciclo de política monetária expansionista já ficou para trás. 

Em tese, a conjuntura de bonança global favorecerá também o Brasil e os emergentes. Agora, entretanto, sofremos com seus efeitos colaterais mais imediatos.

editoriais@grupofolha.com.br

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