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Zico: Por que eu confio no Brasil

Seleção está pronta para lidar com a responsabilidade

Zico participa de sabatina promovida pela Folha, em abril de 2010
Zico participa de sabatina promovida pela Folha, em abril de 2010 - Jorge Araújo - 13.abr.10/Folhapress

A Copa do Mundo vai começar para o Brasil contra a Suíça, mas algumas certezas de Copas nós já temos. As tradicionais seleções certamente vão brigar pela taça porque contam com jogadores que desequilibram. Não é de hoje, mas vale lembrar que os clubes europeus são seleções globais que voltam para jogar por suas pátrias de quatro em quatro anos.

A Itália é a maior ausência desta edição, mas temos França, Inglaterra, Espanha, a Argentina de Messi e Portugal de Cristiano Ronaldo, além, é claro, da atual campeã mundial, a Alemanha. Fora a expectativa por uma Bélgica, que um dia vai acertar o pé. Será na Rússia?

Mas o tema deste artigo é o Brasil, que naturalmente chega como um dos favoritos e acredito que possa voltar com o hexacampeonato. Além da qualidade técnica dos jogadores —não por acaso é o time mais valorizado do mundo—, o Brasil chega atuando em alto nível. Ao contrário de outras oportunidades, os jogadores fizeram boas temporadas por seus clubes. Isso faz toda a diferença, porque dá confiança ao time.

Não resta dúvida de que Neymar é o destaque da equipe, mas temos nesta Copa uma característica diferente na seleção. O Brasil não é dependente de um jogador. Enxergo claramente uma distribuição interessante da responsabilidade de decisão em que a qualidade do grupo pode realmente pesar mais do que a individualidade, que estará presente no talento de vários jogadores, não apenas nos pés do Neymar.

Por sinal, estive com ele há cerca de dois meses e percebi que o camisa 10 do Brasil está mais maduro, vai chegar plenamente recuperado da lesão e pronto para ser peça importante no esquema do Tite. Ele pode ser a cereja do bolo do Brasil.

O treinador merece um destaque especial. Tite recuperou a seleção e imprimiu um jeito de jogar que aproxima o time da torcida, como não se via havia muito tempo. É uma liderança baseada em competência como treinador, excelente leitura do jogo e, acima de tudo, entendimento das características dos jogadores. 

Natural que cada um tenha a sua seleção na cabeça, mas Tite foi sempre coerente com a ideia dele sobre futebol e o que ele queria. Até isso resgata a confiança no trabalho, que foi muito bem feito até aqui.

Tite preparou a seleção para a cobrança, o que não significa que teremos uma caminhada fácil. Muito pelo contrário. Copa do Mundo se decide num jogo, num lance, num momento. Mas temos um grupo em condições, até pelo que sofremos em 2014, para lidar com a responsabilidade de representar o país. 

Ao olhar para os adversários na primeira fase, entendo também que o Brasil encontra boas condições. Um grupo muito fácil poderia passar uma sensação equivocada, que não seria boa para o mata-mata a partir das oitavas. Já um grupo da morte tornaria o início desgastante demais.

Acho que o Brasil, enfrentando Suíça, Costa Rica e Sérvia, tem plenas condições de ir crescendo na competição, entre dificuldade e acertos, garantindo o primeiro lugar com a medida certa de controle do entusiasmo. Essa é uma hipótese bem possível de ser confirmada.

Todos os argumentos que apontei reforçam a minha confiança na seleção. Então, resta-me vestir a camisa de torcedor, assim como milhões de brasileiros, e torcer a partir deste domingo pela sexta conquista de Copa do Mundo. Boa sorte, Brasil!

Zico

Arthur Antunes Coimbra, meia da seleção brasileira entre 1976 e 1986, com participação em três Copas do Mundo (1978, 1982 e 1986)

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