Descrição de chapéu

Crivella na berlinda

São claros os sinais de que o prefeito desrespeitou princípios de isenção e moralidade

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O prefeito do Rio de Janeiro, Marcelo Crivella (PRB)
O prefeito do Rio de Janeiro, Marcelo Crivella (PRB) - Yasuyoshi Chiba - 19.jun.17/AFP

Num espetáculo constrangedor, que serviu para corroborar certos traços infames do comportamento de setores da política brasileira, a Câmara Municipal do Rio de Janeiro recusou na quinta-feira (12) dois pedidos de abertura de processo de impeachment contra o prefeito Marcelo Crivella (PRB).

Os requerimentos foram apresentados pelo PSOL e pelo vereador Átila Nunes (MDB), depois de o jornal O Globo ter publicado conteúdo de áudios gravados durante encontro do prefeito com pastores e líderes de igrejas evangélicas

Na reunião, realizada numa das sedes do poder municipal, o comportamento de Crivella foi antes de irmão de fé do que de autoridade político-administrativa. Dispôs-se a facilitar o acesso de fiéis a cirurgias em hospitais públicos e prometeu dar celeridade a demandas de isenção de cobrança de IPTU em benefício de igrejas.

São claros os sinais de que o prefeito desrespeitou princípios de isenção e moralidade, além de ter ignorado a regra de que o Estado, em suas diversas ramificações, precisa preservar seu caráter laico.

Ele, aliás, já havia demonstrado em ocasiões anteriores que não consegue ou pretende separar suas crenças e compromissos religiosos da função exercida, da qual se espera respeito às leis, sem favorecimentos ou preconceitos pautados por convicções outras.

Ao incidir nesses equívocos, Crivella tem deixado flanco aberto para a oposição, que aproveitou a oportunidade do escândalo para deflagrar uma ofensiva política ruidosa, mas pouco consequente.

Não houve acordo sobre o impeachment nem mesmo entre as siglas contrárias à administração. O PSOL o apoiou; o PT, não.

A tentativa de promover o afastamento de um governante eleito parece de fato exagerada diante das circunstâncias.

Não se trata de desculpar as atitudes condenáveis do alcaide carioca, mas de reconhecer que a deposição é uma solução traumática só aplicável em casos extremos, com clara justificativa e consequente perda das condições de permanência no cargo por parte da autoridade em questão.

Plateia de manifestantes favoráveis e contrários à proposta compareceu à sessão, que registrou entre outros momentos deploráveis a atuação do vereador evangélico Otoni de Paula (PSC). Após defender o prefeito, fez gestos ofensivos para seus oponentes e tentou ridicularizar com trejeitos corporais a comunidade LGBT. 

Não foi, por certo, uma jornada das mais felizes para a conturbada política do Rio de Janeiro.

editoriais@grupofolha.com.br

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