Descrição de chapéu

Desafio ao gigante

Agressividade das autoridades europeias contra o Google expõe práticas monopolistas

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Margrethe Vestager, comissária da União Europeia para concorrência, durante entrevista à imprensa, em Bruxelas
Margrethe Vestager, comissária da União Europeia para concorrência, durante entrevista à imprensa, em Bruxelas - Yves Herman/Reuters

Com a multa bilionária aplicada ao Google na semana passada, as autoridades europeias demonstraram mais uma vez sua disposição para impor limites à expansão dos gigantes de tecnologia americanos.

Na quarta (19), a Comissão Europeia anunciou multa recorde de € 4,3 bilhões (equivalente a R$ 19 bilhões) para o Google, acusado de abusar da posição dominante detida por seu sistema operacional no mercado de telefones celulares.

O valor é quase o dobro da penalidade aplicada à companhia há um ano, quando ela teve que pagar € 2,4 bilhões (R$ 11 bilhões) por causa de práticas anticompetitivas do seu site de comparação de preços.

O sistema operacional da gigante americana, o Android, roda em 85% dos celulares vendidos no mundo hoje em dia. O Google não cobra pelo seu uso, mas impõe a fabricantes dos aparelhos e operadores de telefonia várias condições.

Para ter o sistema, eles são obrigados a instalar nos celulares outros aplicativos desenvolvidos pelo Google, dando aos programas oferecidos pela companhia uma vantagem que seus concorrentes não têm.

O Android é um dos pilares do bem-sucedido modelo de negócios do Google, porque permitiu manter o interesse pelos lucrativos serviços oferecidos na internet depois que os consumidores deixaram de lado seus computadores para passar mais tempo de olho na tela dos seus aparelhos celulares.

A empresa anunciou que vai recorrer contra a decisão da Comissão Europeia. O valor da multa representa uma fração do que ela tem em caixa, mas será preciso rever os termos dos seus contratos para evitar outras sanções.

O Google argumenta que nada impede os usuários dos telefones de trocar seus aplicativos pelos dos rivais, e que a distribuição gratuita do Android também proporciona benefícios para fabricantes, operadores e consumidores.

Indústrias como a coreana Samsung podem oferecer aparelhos celulares sofisticados a preços competitivos graças ao sistema, e por isso têm fatias relevantes de um mercado que antes era dominado por outro gigante americano, a Apple.

A agressividade dos europeus contrasta com a leniência dispensada pelos Estados Unidos, que arquivaram investigações semelhantes por não ver prejuízo para consumidores e concorrentes do Google.

Observa-se o mesmo no Brasil, onde a Superintendência-Geral do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) recomendou recentemente o arquivamento de duas queixas contra o Google.

A velocidade das transformações na economia digital é desafiadora para as autoridades. Mas o pior dos mundos seria aquele em que a tolerância com os monopólios deixasse empresas como o Google à vontade para barrar o surgimento de competidores mais inovadores.

editoriais@grupofolha.com.br

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.