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Experimento mexicano

Eleição no México traz apreensão por falta de plataforma clara de favorito à presidência

O candidato à presidência no México, López Obrador, acena em comício
O candidato à presidência no México, López Obrador - Edgard Garrido /Reuters

Uma alternância inédita de poder, que traz um cenário de incerteza intrínseco a processos desse tipo, está prestes a ocorrer no México, com as eleições gerais marcadas para este domingo (1º).

Favorito na disputa presidencial, o esquerdista Andrés Manuel López Obrador, 64, conhecido pelo acrônimo AMLO, deve interromper uma sequência de quase 90 anos de governos nas mãos de apenas dois partidos.

A bem da verdade, de praticamente um só, o Partido Revolucionário Institucional (PRI), de centro-direita, no comando de 1929 a 2000 e de volta desde 2012, com o atual mandatário Enrique Peña Nieto.

Atribui-se o possível triunfo de AMLO, em boa medida, à insatisfação com a corrupção e com o combate à criminalidade —o número de homicídios em 2017 foi o maior dos últimos 20 anos, pelo menos, embora a taxa por cem mil habitantes seja menor que a brasileira (respectivamente, 20,5 e 30).

Entretanto o candidato à frente nas pesquisas não dispõe de plataforma consistente para tais desafios.

Promete “terminar com a máfia neoliberal”, além de —para realizar o que chama de justiça social— reduzir salários de altos funcionários e cortar outras despesas para ajudar os mais pobres.

No campo da violência, chegou a sugerir uma anistia a criminosos, inclusive chefes do tráfico; ante à reação da opinião pública, recuou.

Apesar do discurso contra os governantes de sempre, não se pode enquadrá-lo como algo novo. Afinal, está em sua terceira tentativa; na primeira, perdeu por 0,5 ponto percentual e contestou o resultado. Com o aprendizado das derrotas, tornou-se mais palatável à classe média, em trajetória semelhante à de Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Tal como seu congênere brasileiro às vésperas da vitória nas urnas, reside nos negócios o principal temor em relação a AMLO no poder. Ainda que se diga disposto a dialogar com o empresariado, não redigiu nenhuma carta ao povo mexicano para acalmar investidores e coleciona atritos com nomes de peso da economia local.

São vagas, por ora, suas propostas, como uma redistribuição dos gastos públicos e, no comércio exterior, um acordo com EUA, Canadá e países da América Central —o provável mandatário quer uma boa relação com Donald Trump, o que pode ser um problema a menos.

Só a vivência do cargo indicará se AMLO, com um mandato de seis anos, pretende rumar para um centro conciliador, afastando-se de arroubos populistas. Trata-se de uma aposta, cujos riscos os mexicanos ainda estão por dimensionar.

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