Descrição de chapéu

Heloisa Morel: Brasil, o país do futebol, também precisa de outros esportes

Nas demais modalidades, podemos ser campeões em formar indivíduos

Quadra do colégio estadual Deputado Luiz Sergio Claudino dos Santos, na Brasilândia, zona norte de São Paulo
Quadra do colégio estadual Deputado Luiz Sergio Claudino dos Santos, na Brasilândia, zona norte de São Paulo - Eduardo Knapp - 5.set.17/Folhapress

Com a Copa do Mundo acontecendo, todos os olhares estão voltados para o futebol, estimulando o interesse e a prática da modalidade entre jovens e crianças. Um levantamento realizado pelo Instituto Península e pelo Plano CDE, para retratar a prática de educação esportiva nas escolas públicas do Brasil, mostra que o futebol e vôlei são as modalidades mais praticadas nas escolas em mais de 80% e 70% dos casos, respectivamente. Mas e aqueles que não se interessam ou não têm habilidade para praticar esses esportes?

Pecamos em achar que o Brasil seja só o país do futebol e não estimulamos outras modalidades. Além do benefício no aprendizado, novas habilidades físicas surgiriam se houvesse o aumento do repertório esportivo. O esporte desenvolve coordenação motora, desenvoltura corporal e melhora a cognição. Além disso, quanto mais os jovens conhecerem novas modalidades, maiores as chances de descobrirem uma prática que possa se tornar um hábito para uma vida saudável.

Mas o que falta para conseguirmos esse estímulo? O mapeamento mostra que os profissionais de educação física são experientes e altamente qualificados: 66% fizeram uma pós-graduação, e 82% têm mais de 40 anos. Temos professores que estão dispostos a ensinar e desenvolver o amor pelo esporte mesmo com as dificuldades, já que a infraestrutura é apontada como o maior problema. O Censo Escolar 2017 diz que apenas 41,2% das escolas de ensino fundamental contam com quadras poliesportivas.

Para estimular, ampliar e disseminar os valores do esporte dentro das escolas, o Instituto Península, por meio do programa Impulsiona, oferece formação de professores para que eles fortaleçam a cultura esportiva. Além disso, são criadas oportunidades para os educadores trabalharem as competências socioemocionais. Quando o esporte é bem trabalhado, o aprendizado dentro e fora de aula também é favorecido. 

De acordo com dados do Congresso Internacional de Neuroeducação da Espanha, escrito pela neurocientista Marta Portero, a atividade física tem um impacto positivo no funcionamento do hipocampo (essencial na consolidação da memória), na liberação de importantes neurotransmissores e no desenvolvimento de funções executivas. Os sistemas sensoriais e motores que governam o corpo estão enraizados nos processos cognitivos que permitem aprender melhor.

Estamos falando em usar o esporte como aliado para fortalecer as competências gerais listadas na Base Nacional Comum Curricular, como autoconhecimento e autocuidado, empatia e cooperação. Se desenvolvidas de forma integrada aos componentes curriculares, essas competências agregarão aos alunos conhecimentos, habilidades, atitudes e valores essenciais. Por isso, é muito importante desenvolver um contato de qualidade não apenas com o futebol, mas com outras modalidades esportivas.

Somos o país do futebol, mas será que esse é o único caminho? Com o futebol e outras modalidades, poderemos ser campeões em formar indivíduos mais saudáveis e que têm chances de aprender os conteúdos escolares com mais qualidade. É preciso ampliar e fortalecer a educação esportiva, entendendo o esporte, acima de tudo, como um instrumento pedagógico capaz de agregar valor à educação, ao desenvolvimento das competências socioemocionais e à formação integral do indivíduo.

Heloisa Morel

Diretora do Instituto Península

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.