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Jorge da Cunha Lima: O Roda Viva não é simpósio

Programa não é chapa-branca, nem preta ou vermelha

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Jorge da Cunha Lima, vice-presidente do Conselho Curador da TV Cultura, em lançamento de livro em SP
Jorge da Cunha Lima, vice-presidente do Conselho Curador da TV Cultura, em lançamento de livro em SP - Zanone Fraissat - 11.jun.18/Folhapress

O Roda Viva é o mais tradicional programa de debates da televisão brasileira. Foi criado para sabatinar cidadãos com posição ou pretensões de responsabilidade política, econômica, cultural, científica e mesmo ideológica.

Seu formato é conhecido. Atualmente, por decisão do grupo de acompanhamento do programa, do qual sou coordenador, a televisão convida para a bancada de entrevistadores três jornalistas de veículos de comunicação de grande circulação ou audiência e dois representantes qualificados da comunidade de opinião.

Nos programas temáticos, são três convidados especializados no tema e dois jornalistas. Obedecidos os critérios de diversidade intelectual e política, todos eles têm plena liberdade e responsabilidade pelo que perguntam ou debatem, mas não podem afrontar os direitos humanos, fazer ofensas pessoais ao entrevistado ou companheiros entrevistadores nem estimular um confronto de antagonismos odiosos.

O âncora do Roda Viva é e foi escolhido entre jornalistas experientes em entrevistas e coordenação de debates na televisão. Deve ser ideológica e politicamente isento no comando e nas intervenções necessárias durante os debates.

Responsável pelo programa, o jornalista Ricardo Lessa, ao ser convidado, foi alertado de que o Roda Viva não é um simpósio para exposições doutrinárias nem uma arena para se levantar a bola a fim de que o entrevistado a utilize para fazer proselitismo político ou propaganda de seus posicionamentos partidários.

O programa precisa ser quente como uma roda viva. Não é chapa branca, nem preta, nem vermelha. Contudo, não deve agredir a pessoa do convidado, nem impedir que ele conclua um pensamento, em tempo televisivo.

Âncora e entrevistadores, porém, podem cobrar jornalisticamente objetividade nas respostas, quando houver dissimulação visível por parte do entrevistado. Isso significa, em respeito ao telespectador, não aceitar gato quando se indaga sobre lebre. Lembramos que alguns políticos canonizaram essa estratégia de procedimento: nunca responder à pergunta do entrevistador e inverter o seu conteúdo em proveito próprio.

Um clima de respeito à pessoa humana é fundamental, seja homem ou mulher. Mas dar duro num entrevistado homem, conforme tradição do programa, não significa que o programa seja feminista, e vice-versa.

O Roda Viva já transmitiu 1.702 programas registrados desde o seu lançamento, em 1986. Viveu crises e momentos memoráveis. Sempre foi criticado, sucessivamente, por descontentes, o que demonstra sua diversidade e independência crítica.

Infelizmente, hoje, o Brasil é uma gangorra de paixões radicais, até mesmo no Supremo Tribunal Federal. O Roda Viva não pode ser partidário do ódio explícito, venha de que lado vier dessa gangorra.

Nossos erros e nossa evolução são checados a cada semana, depois das transmissões, pelo grupo de acompanhamento, e mensalmente pelo próprio Conselho Curador.

Erramos ao permitir que um debatedor convidado para o programa da candidata à Presidência pelo PC do B fosse militante de uma campanha para presidente --erro que reconheço, pois autorizei, e para o qual já adotamos normas restritivas. Mas, em nenhuma hipótese, nem antes nem depois do programa, nos pautaremos pelo critério das estratégias partidárias.

Jorge da Cunha Lima

Vice-presidente do Conselho Curador da TV Cultura e poeta

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