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Márcio D'Agosto e Cíntia Machado: Boas práticas para melhorar a logística no Brasil

País tem muito a avançar; há soluções simples e baratas

A recente greve dos caminhoneiros que paralisou as atividades econômicas no Brasil revela a importância do setor de logística em nosso país. Nos últimos anos, esse segmento foi bastante afetado pela redução dos investimentos em infraestrutura de transportes e pelo surgimento de regras restritivas à circulação de caminhões e distribuição de carga em áreas urbanas.

Os gastos das empresas cresceram de 11,73% do faturamento bruto em 2015 para 12,37% em 2017, segundo a pesquisa Custos Logísticos no Brasil, da Fundação Dom Cabral. Para que o leitor tenha uma ideia do peso da logística na economia nacional, apenas esse aumento de 0,64 ponto percentual representou um gasto extra de R$ 15,5 bilhões no biênio, a preços de 2017.

A melhoria na infraestrutura de transportes em todos os modos é uma questão central para a cadeia de logística, mas muita coisa pode ser aperfeiçoada sem esperar as iniciativas do governo e investidores privados em obras de grande porte.

Um bom exemplo nasceu de uma parceria entre o meio acadêmico e 22 empresas integrantes do Programa de Logística Verde Brasil (PLVB). O "Manual de Aplicação: Boas Práticas para Transportes de Carga", que será lançado nesta quarta-feira (4), auxilia na implementação de práticas que melhoram a eficiência logística e contribuem com a redução do custo Brasil e da emissão de gases de efeito estufa.

A maior parte das recomendações —cerca de 80% do total— foi formulada com o objetivo de diminuir o consumo de energia, os tempos de operação e aumentar a segurança, a confiabilidade, a flexibilidade e a capacidade da operação logística ao mesmo tempo que se reduzem custos.

No mundo, a logística representa de 7% a 8% do PIB, ao passo que no Brasil esse percentual chega a 12% e precisa ser reduzido ao nível de padrões internacionais. Além disso, o setor consome de 9% a 12% da energia do mundo, em sua maior parte com derivados de petróleo. No Brasil, esse percentual chega a 19%, fruto de ineficiências que podem ser minimizadas.

A verdade é que o Brasil tem muito a avançar; a boa notícia é que o caminho está mapeado, e algumas soluções são simples e baratas. É preciso atacar os problemas de forma estruturada e criativa. Promover a transferência do transporte de carga do modo rodoviário para o ferroviário pode reduzir em 40% os custos operacionais, cerca de 47% no uso de energia e 50% na emissão de dióxido de carbono. São valores expressivos, mas nesse caso é necessário que haja investimentos no modo ferroviário, questão fora do alcance das empresas.

Olhar para o que está sendo feito no exterior ajuda a pensar em soluções criativas para a realidade brasileira de alta concentração do modo rodoviário. Na Suécia —país que se comprometeu a acabar com os combustíveis fósseis no setor de transportes até 2030— já está funcionando o primeiro sistema de rodovia elétrica para transporte de cargas pesadas do mundo. O modelo ainda está sendo testado, mas já se mostrou duas vezes mais eficiente no consumo de energia do que o convencional, além de ser menos poluente.

Do simples ao complexo, o importante é que a sociedade como um todo tenha a consciência de que o investimento em logística traz ganho imediato ao meio ambiente, ajuda na redução de custos para o consumidor e aumenta a rentabilidade das empresas. Com os olhos voltados para o futuro, precisamos começar já o desenvolvimento da logística sustentável, eficiente e plena de soluções arrojadas e criativas. Mãos à obra.

Márcio D'Agosto

Coordenador do Laboratório de Transporte de Carga (LTC) do Programa de Engenharia de Transportes (PET) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ)

Cíntia Machado

Pesquisadora do Laboratório de Transporte de Carga (LTC) e professora do Cefet/RJ (Centro Federal de Educação Tecnológica)

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