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Sobrevivência no ar

Enfrentar sozinha o mercado mundial não era alternativa razoável para a Embraer

Logo da Embraer na sede da companhia, em São José dos Campos - Roosevelt Cassio/Reuters

A venda dos principais negócios da brasileira Embraer para a americana Boeing foi decisão orientada pela necessidade de sobreviver em um mercado mundial concentrado.

A principal concorrente da Embraer, a divisão de jatos médios da canadense Bombardier, foi incorporada pela Airbus. A ex-estatal passou a competir com as gigantes da fabricação de aeronaves em condições mais desfavoráveis. Sua escala menor de produção limita tentativas de redução de custos, bem como o acesso a compradores.

As negociações em curso preveem a criação de duas empresas. Uma delas produzirá jatos comerciais médios, sendo em 80% propriedade da Boeing.

Outra companhia, talvez uma associação com controle da brasileira, ficará com as linhas de aviões de defesa, jatos executivos e outros pequenos aparelhos, negócio que rende menos de 10% do lucro da companhia brasileira.

A primeira vai se valer das vantagens oferecidas pela participante dos Estados Unidos: tamanho, possibilidade de redução de encargos administrativos e operacionais devido a sinergias, tecnologia, recursos mais baratos para investir e facilidades comerciais e políticas.

No entanto é incerto como serão divididas as capacidades tecnológicas dessa empresa —engenheiros e conhecimentos que servem às várias linhas de produção da Embraer. Tampouco se sabe se a ênfase em pesquisa e desenvolvimento será mantida pelos novos proprietários, ou se a atividade será mais parecida com a de uma montadora.

Já a segunda companhia terá escala ainda menor e tende a sofrer com resultados econômicos insustentáveis. Há indícios de que terá apoio da Boeing na promoção e aperfeiçoamento de seu avião de transporte militar e de cargas. Terá a mesma ajuda no projeto do caça Gripen, que desenvolve em parceria com a sueca Saab?

O governo brasileiro, os militares em particular, preocupava-se com esse assunto —a manutenção da capacidade nacional de produzir aviões de combate e tecnologias relacionadas.

Em tese, a transação parece tranquilizadora para aqueles que se ocupam de problemas ditos estratégicos. Mas o sucesso do que restou da Embraer nacional é um ponto de interrogação.

Faltam definições, ademais, a respeito da cisão operacional e das dívidas. Apenas em 2019 haverá clareza sobre o formato das novas empresas de aviação que vão atuar no Brasil. Tais questões sem dúvida se mostram relevantes.

Entretanto é inegável que a alternativa de enfrentar sozinha o mercado mundial não mais se afigurava razoável para a Embraer.

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