Por paradoxal que possa soar, a participação de Donald Trump na cúpula da Otan, encerrada nesta quinta (12), mostrou-se coerente com sua prática reiterada de turvar a definição de quem é parceiro dos Estados Unidos no palco global.
Como já se esperava, o presidente americano voltou a constranger históricos aliados europeus —assim fora na malfadada reunião do G7, em que se recusou a assinar a declaração final e saiu mais cedo.
No encontro da aliança militar ocidental, cobrou de forma áspera que os demais países-membros cumpram a meta, fixada para até 2024, de destinar ao menos 2% de seu Produto Interno Bruto para gastos em defesa —hoje, somente os EUA e outros quatro integrantes o fazem.
Mais que isso, propôs ao bloco que o patamar mínimo de dispêndios nesse setor passe para 4% do PIB, algo que talvez só os americanos tenham poderio suficiente, ou mesmo disposição, para realizar.
Chamada de obsoleta pelo líder republicano durante a campanha, a Otan nasceu no pós-Segunda Guerra como escudo contra a expansão soviética. Sua missão atual é conter a Rússia de Vladimir Putin, cuja agressão externa mais notória deu-se em 2014, quando da intervenção na Ucrânia e consequente anexação da Crimeia.
Essa tarefa, porém, esbarra no comportamento errático de Trump em relação ao presidente russo.
Em que pese ter repensado sua visão sobre a aliança, o republicano reserva a Putin tratamento bem mais amistoso do que o visto com seus parceiros. Não raro, minimiza ações recrimináveis de Moscou, como a suspeita de interferência nas eleições americanas de 2016.
O chefe da Casa Branca tem direito de exigir mais de seus aliados e até, como também fez na cúpula, de evidenciar uma contradição da Europa Ocidental —o fato de a diplomacia abertamente anti-Kremlin conviver com a dependência de gás e petróleo vindos da Rússia.
Questiona-se, entretanto, o modo como ele expõe as vulnerabilidades dos que se opõem a Putin, ainda mais às vésperas da reunião bilateral com o líder russo, marcada para segunda (16). Espera-se de Trump semelhante franqueza diante desse interlocutor para fazer críticas e cobrar atitudes.
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