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Debate tutelado

Encontro televisivo segue regras usuais que tolhem intervenção jornalística

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Candidatos à Presidência durante debate televisivo; da esq. para a dir., Alvaro Dias (Podemos), Cabo Daciolo (Patriota), Geraldo Alckmin (PSDB), Marina Silva (Rede), Jair Bolsonaro (PSL), Guilherme Boulos (PSOL), Henrique Meirelles (MDB) e Ciro Gomes (PDT)
Candidatos à Presidência durante debate televisivo; da esq. para a dir., Alvaro Dias (Podemos), Cabo Daciolo (Patriota), Geraldo Alckmin (PSDB), Marina Silva (Rede), Jair Bolsonaro (PSL), Guilherme Boulos (PSOL), Henrique Meirelles (MDB) e Ciro Gomes (PDT) - Marlene Bergamo/Folhapress

A democracia brasileira se enraizou notavelmente nos últimos 33 anos. Eleições ocorreram periodicamente, eleitos governaram, oposições atuaram com liberdade, órgãos de controle e imprensa fiscalizaram com autonomia e crises foram resolvidas dentro da lei.

Nem todos os aspectos do que se poderia chamar de espírito democrático, no entanto, evoluíram favoravelmente. Na hora de votar, o cidadão continua a ser tratado como um ser infante a ser protegido.

É obrigado por lei a ir à urna, não pode ser exposto a propaganda eleitoral antes do período definido pela lei, deveria ser poupado por filtros estatais das fake news. 

A tutela de informações e procedimentos abrange o que pode e o que não pode ocorrer na propaganda no rádio e na televisão, nas pesquisas de opinião e até nos debates entre candidatos realizados por veículos de comunicação.

Por força da lei, foram nove os convidados para o debate da quinta-feira (9) na TV Bandeirantes. Oito compareceram, pois a insistência com Luiz Inácio Lula da Silva impediu o PT de ter representante.

Não há discussão frutífera com tanta gente. Critérios jornalísticos, associando pesquisas e poderio partidário, teriam selecionado no máximo cinco competidores.

O outro fator de engessamento  é causado pelas assessorias dos partidos na hora de estipular as regras. Com o objetivo de diminuir os riscos para seus clientes, elas restringem a participação de jornalistas, que poderiam ser árbitros críticos e equidistantes das sessões.

Há uma profusão de falas entre os próprios postulantes, definidas pelo marketing, sem possibilidade de intervenção de profissionais da imprensa para apontar contradições, cobrar precisão ou aprofundamento, pedir esclarecimentos em linguagem inteligível.

Na França e nos Estados Unidos, há exemplos de uso flexível do tempo e das regras, de modo a estimular o fluxo de ideias, propostas e críticas entre os participantes, mediados por uma consciência jornalística que representa a demanda do grande público por conhecimento dos temas em pauta.

O Brasil deveria perseguir esses modelos, encarando o eleitor como indivíduo capaz de tomar suas decisões por conta própria e de filtrar as mensagens que receba a propósito da disputa por seu voto.

Com todos os defeitos, porém, é melhor debate engessado do que não haver debate. Informações valiosas, ainda que em quantidade e qualidade aquém do desejável, costumam surgir nesses ambientes.

Na Bandeirantes, Jair Bolsonaro (PSL) foi confrontado com práticas parlamentares incompatíveis com a novidade que diz encarnar; Marina Silva (Rede), com uma retórica insólita sobre o déficit orçamentário; Ciro Gomes (PDT), com sua exótica proposta previdenciária; Geraldo Alckmin (PSDB), com o apoio maciço de siglas fisiológicas.

Por essa razão esta Folha, associada a UOL e SBT, promoverá um encontro com presidenciáveis no próximo dia 26 de setembro.

editoriais@grupofolha.com.br

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