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Rogerio Chequer

Fadiga de material

Definições de esquerda e direita confundem eleitor

Rogerio Chequer, candidato ao governo de São Paulo pelo partido Novo
Rogerio Chequer, candidato ao governo de São Paulo pelo partido Novo - Karime Xavier - 14.dez.17/Folhapress

Como definir direita e esquerda? Os termos têm sido amplamente usados, há até certa fadiga de material, mas será que a população sabe do que se trata? Tenho convicção de que não, e isso cria amplo espaço para oportunistas.

O problema é que existe uma profusão de réguas coerentes, mas cujas combinações estão longe de serem facilmente classificadas.

A primeira régua é o tamanho e interferência do Estado. Esquerda defende o Estado maior e interventor; a direita, menor e fiscalizador.

O tamanho do Estado tem consequências múltiplas. Estados maiores são mais caros e abrem espaço para mais corrupção. Geralmente requerem mais impostos para se sustentarem. 

Outra régua é a do liberalismo econômico, que pressupõe mais liberdade para empreender, contratar, demitir, exportar, importar. O liberalismo exige menos intervenção na vida econômica do indivíduo, sobretudo no modo de conduzir seus negócios.

A direita tem simpatia pelo liberalismo, pelo menos teoricamente, enquanto a esquerda, historicamente associada ao planejamento central e ao socialismo, tem dificuldade em se reconciliar com a ideia de economia de mercado. 

Mas a régua mais enigmática, para mim, é a social. A chamada esquerda se apossou da pauta social. Não pela sua prática, mas por sua habilidade de comunicação. Prometem diminuir injustiça social sem nunca conseguirem tê-lo feito de modo sustentável em nenhum lugar do mundo. Nem mesmo aqui, quando faziam política social com financiamento inflacionário, ou seja, tributando o pobre. 

Os autodenominados de direita pouco mencionam o "social" em suas prioridades, mas defendem que ele será atingido ao longo do tempo, pela implementação de políticas econômicas sustentáveis. Combater a inflação, por exemplo, era uma pauta de direita. Resultado: para "melhorar o social", você não pode ser de direita —uma óbvia falácia. 

Para fazer parecer a direita mais humana e a esquerda mais moderna, criaram o centro, onde vale misturar conceitos sem se comprometer com um lado ou com o outro. Acabou se transformando, assim, num grupo caracterizado pela falta de nitidez ideológica e por um pragmatismo excessivo.

Outro conjunto de réguas, incorretamente agrupado, tem a ver com o liberalismo de comportamento: pauta LGBT+, criminalização de drogas, aborto e armas. Aqui, a classificação linear se torna impossível, pois são temas descorrelacionados e que comportam inúmeras combinações.

Quem é contra o aborto e a favor de armas não pode ser a favor da pauta LGBT+? Criminalização de drogas e armas tem que ser feita em combo? Ou você acha que não existe esquerda conservadora ou direita progressista?

Essas armadilhas retóricas, que confundem as pessoas num momento crucial de escolha do futuro, podem ser evitadas se fatiarmos os assuntos e separarmos as réguas.

É fundamental não reforçarmos o apartheid ideológico, a polarização e a divisão quando o Brasil precisa que seus líderes abordem temas difíceis com lucidez e objetividade.

Rogerio Chequer

Engenheiro de produção (USP), ex-líder do movimento Vem Pra Rua e candidato ao governo de São Paulo pelo partido Novo

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