Iluminismo de Otavio pauta Manual da Redação

Otavio se dedicou em seus últimos anos de vida a atualizar alguns pilares da Folha

Otavio Frias Filho, ao lado de Sérgio Dávila, fala em seminário na Folha sobre o novo ‘Manual da Redação’ - Joel Silva - 6.abr.17/Folhapress
Uirá Machado
São Paulo

Otavio Frias Filho era acima de tudo um iluminista. Acreditava na persuasão racional e considerava possível sistematizar de forma coerente boa parte do conhecimento disponível. 

O Projeto Folha jamais teria alcançado tamanha dimensão sem a firmeza dessas convicções. Desde os anos 1980, elas balizaram a criação e o desenvolvimento de dois pilares do jornal: o Projeto Editorial e o “Manual da Redação”.

As atuais versões desses documentos espelham as preocupações mais recentes de Otavio quanto aos rumos do jornalismo e consolidam suas propostas para a Folha.

Sua longa elaboração reflete o espírito de quem sempre foi o maior crítico de si mesmo e traduz a intenção de organizar a experiência sedimentada após ciclos irregulares.

No que só pode ser um acaso, um desses ciclos se completou em meados desta década, e Otavio se dedicou em seus últimos anos de vida a atualizar alguns pilares da Folha.

Em 2014, por sugestão do editor-executivo Sérgio Dávila, deu-se ampla transparência às principais posições defendidas pelo jornal em editoriais. 

O material, chamado “O que a Folha pensa”, influenciou uma campanha publicitária, mas seu propósito nunca foi comercial. Tratava-se, bem ao gosto de Otavio, de sistematizar as opiniões do jornal e de explicar ao público como se chegava a cada uma delas.

Em 2015, criou-se a comissão encarregada de rever o “Manual da Redação”. Lamentando certo distanciamento no processo que levou à edição de 2001, Otavio acompanhou cada vírgula do livro publicado em fevereiro deste ano.

As reuniões, às vezes diárias, estendiam-se por horas no meio da tarde; as discussões, não raro sobre minúcias, aprofundavam-se além do que o noticiário costuma permitir.

Mas, como ele dizia, era um esforço necessário. Se por mais não fosse, porque dos encontros sairia o Projeto Editorial da Folha, divulgado em março de 2017, e porque ali seriam formuladas as diretrizes para os profissionais deste jornal, reunidas no “Manual”.

Sim, um esforço necessário, mesmo sem saber que jamais se repetiria a oportunidade de conversar a fundo sobre jornalismo com o homem que modernizou o ofício no Brasil.

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