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Roberto Luis Troster

O Brasil maior que a crise

Blindagem contra turbulências externas é parcial

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Cédulas de lira turca são vistas em uma casa de câmbio de Istambul; crise da moeda local afetou outros países emergentes
Cédulas de lira turca são vistas em uma casa de câmbio de Istambul; crise da moeda local afetou outros países emergentes - Murad Sezer - 13.ago.18/Reuters

Turbulências nos mercados internacionais geram o temor de contágio no Brasil, de haver uma retração em 2019. É um evento indesejado, em que quase todos perdem. O desemprego e a inadimplência aumentam, e o investimento e a governabilidade dos países diminuem.

Recessões são eventos recorrentes no mundo. Um conjunto com a evolução do PIB de 209 países e territórios durante 50 anos aponta um desempenho heterogêneo, no qual alguns poucos cresceram todos os anos e os demais viram suas economias contraírem por períodos variados. No Brasil, a economia encolheu durante oito anos, um desempenho pior do que de outros 139 países.

É uma história que se repete com padrões semelhantes. "O Brasil maior que a crise" é tratado como um mantra com propriedades mágicas de evitar problemas. Ante os alertas da Turquia e da Argentina, o discurso é de que as reservas de US$ 380 bilhões blindam o país de corridas.

É uma meia verdade, se considerarmos que os investimentos estrangeiros em carteira mais as operações intercompanhias e os financiamentos de curto prazo dos bancos totalizam US$ 761 bilhões, o dobro do valor das reservas; nota-se que a blindagem é apenas parcial.

Agravando o quadro, a dinâmica câmbio-inflação-juros-dívida é devastadora no Brasil, em grande parte por uma arquitetura institucional antiquada. Na crise de 1999, custou ao país uma alta da dívida pública de 13% do PIB. Mesmo assim, essa fragilidade não foi corrigida, e o discurso continua o mesmo, de que as reservas são uma proteção segura.

O quadro de riscos no Brasil continua baixo, mas tem aumentado. No exterior, as tensões nos Estados Unidos; aqui, a dívida pública crescente e o crescimento anêmico são indicadores antecedentes de que é oportuno atuar e evitar problemas.

O foco das atenções está apenas no controle de gastos, quando há mais que pode ser feito para melhorar a dinâmica da relação dívida/PIB, como modernizar a regulação do sistema financeiro e fazer ajustes no balanço do setor público. O segredo para evitar recessões é agir rapidamente e com ambição. As reações às turbulências na Turquia e na Argentina ilustram o ponto.

O governo turco usa discursos inflamados e torce para que os problemas passem. Já os argentinos, ao primeiro sinal de perigo, seguiram o livro-texto, conseguiram um empréstimo no FMI, subiram os juros e ajustaram a política econômica.

Só o tempo vai dizer se a emoção turca ou a racionalidade argentina vai ter um desempenho melhor. Mas tudo indica que nossos vizinhos têm uma estratégia vencedora. Aqui podemos fazer melhor e nos antecipar aos problemas.

Evitar crises deveria ser prioridade de todos os governos e candidatos, mas aparentemente não é; não está em nenhum dos planos dos presidenciáveis. Neles, há um gradualismo e um reformismo incompatíveis com o potencial de crescer sem sustos. "O Brasil maior que a crise" é algo que deve fazer parte do debate eleitoral. Tem que ser incluído.

Roberto Luis Troster

Doutor em economia e consultor, é ex-economista-chefe da Febraban (Federação Brasileira de Bancos)

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