Descrição de chapéu

O calcanhar de Francisco

Papa tem falhado diante da cobrança por medidas para combater casos de pedofilia

O papa Francisco acena antes de discurso no Vaticano
O papa Francisco acena antes de discurso no Vaticano - Filippo Monteforte/AFP

Que Francisco empreende mais esforços que seus antecessores para combater os casos de pedofilia por parte de sacerdotes, trata-se de ponto pacífico. Ao reconhecer as dimensões do problema, entretanto, o papa se vê diante da cobrança por medidas condizentes com a gravidade da situação, no que tem falhado.

A revelação trazida por um recente relatório da Suprema Corte da Pensilvânia (EUA) —de que cerca de 300 padres do estado abusaram sexualmente de mais de mil crianças ao longo de 70 anos— dá ideia da chaga dentro da igreja.

Por meio de uma carta, o pontífice chamou os episódios de crimes, em contraste com o tom eufemístico da Conferência dos Bispos Católicos dos EUA, que falou apenas em “pecados e omissões”. Ademais, admitiu que o Vaticano tardou em diagnosticar a magnitude das denúncias.

Há quatro meses, Francisco também recorreu a uma missiva para se desculpar diante dos fiéis pelo acobertamento de denúncias de pedofilia contra padres no Chile. À época, disse ter cometido “graves erros de avaliação” por ter defendido um bispo que teria tentado esconder dezenas de acusações.

Recaem sobre ele críticas de que as manifestações de indignação e a recorrente afirmação de tolerância zero aos abusos não se traduziram, por ora, em ações concretas para punir seus subordinados.

Recorde-se que, em 2014, o papa criou uma comissão para investigar as agressões sexuais contra menores —da qual participava inclusive uma vítima de ataques, que posteriormente se retirou do grupo por questionar o ritmo dos trabalhos internos.

Uma das recomendações desse colegiado foi estabelecer um tribunal do Vaticano para julgar, de forma sistemática, bispos acusados de acobertar tais episódios. Desde então, em boa medida devido à resistência de setores contrários às diretrizes do atual pontificado, a ideia não prosperou.

A lamentar, ainda, a pouca transparência da instituição quanto às apurações pontuais em andamento. Na maioria das vezes, os casos somente vêm à tona por iniciativa de entidades de defesa das vítimas, que costumam procurar a imprensa por não confiarem em reportar os relatos à própria igreja.

Medidas isoladas, tal qual a aceitação da renúncia de um cardeal americano suspeito de abusos, no mês passado, não têm se mostrado suficientes. Cabe a Francisco romper a inércia para conseguir convencer seu rebanho de que vai cumprir a promessa de “extirpar essa cultura da morte”.

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