Descrição de chapéu

O triunfo do Crocodilo

Redemocratização é o melhor caminho para o Zimbábue superar os traumas da ditadura

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Apoiador do MDC, partido derrotado na eleição presidencial, participa de protesto em Harare
Apoiador do MDC, partido derrotado na eleição presidencial, participa de protesto em Harare - Siphiwe Sibeko/Reuters

Na segunda-feira (30), a esperança de milhões de eleitores era a de que a escolha de um novo presidente abrisse caminho para o Zimbábue voltar à democracia, após 37 anos de ditadura de Robert Mugabe. Dias depois, as imagens são de militares reprimindo opositores à bala.

Os protestos começaram após os primeiros resultados indicarem a conquista da maioria parlamentar pela legenda governista, Zanu-PF, contrariando pesquisas de opinião. Na quinta-feira (2), o presidente Emmerson Mnangagwa, 75, foi declarado vitorioso para um mandato de cinco anos.

O principal candidato da oposição, Nelson Chamisa, 40, não reconheceu os resultados e disse que recorrerá à Justiça. Nos últimos dias, seus simpatizantes foram reprimidos nas ruas da capital, Harare, com um saldo de seis mortos.

Observadores eleitorais afirmam que a votação em si ocorreu sem maiores problemas, mas criticam a ingerência do governo na imprensa e na Comissão Eleitoral. Reportagem do jornal The New York Times mostrou a coerção de eleitores pelo oficialismo no interior do país.

Mnangagwa, que ganhou o apelido de Crocodilo nos tempos de guerrilheiro, está há oito meses no poder, conquistado após tramar a queda de Mugabe, seu aliado de décadas, de quem chegou até a ser vice-presidente.

Seu passado traz à memória um período sangrento. Quando serviu como ministro da Segurança Nacional, nos anos 1980, forças do governo mataram cerca de 20 mil pessoas na repressão a adversários.

Na eleição, Mnangagwa ao menos abriu mais espaço para a oposição e permitiu a participação de observadores internacionais pela primeira vez após 16 anos. Por outro lado, valeu-se da velha prática de uso da máquina estatal, desequilibrando o pleito a seu favor.

O Zimbábue tornou-se independente do Reino Unido apenas em 1980, quando o então líder guerrilheiro Mugabe assumiu o poder. Sob seu regime brutal, o país africano experimentou uma caótica redistribuição de terras e foi devastado pela hiperinflação, o que o manteve entre as nações mais pobres do mundo. 

A redemocratização é o melhor caminho para o Zimbábue superar os traumas da ditadura e criar a estabilidade institucional necessária para reativar a economia.

Será preciso, porém, um grande esforço de acomodação política para que este pleito não seja apenas uma oportunidade perdida —algo que o atual mandatário ainda não se mostrou disposto a fazer.

editoriais@grupofolha.com.br

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.