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Elias Miler da Silva

Quem se importa com a morte de um policial militar?

Caso da soldado Juliane Duarte acabará esquecido

Corpo da soldado da Polícia Militar Juliane dos Santos Duarte é enterrado em São Bernardo do Campo (SP)
Corpo da soldado da Polícia Militar Juliane dos Santos Duarte é enterrado em São Bernardo do Campo (SP) - Robson Ventura - 7.ago.18/Folhapress

No dia 15 deste mês, fechamos o quinto mês do assassinato da vereadora carioca Marielle Franco. Também no dia 15, chegamos ao nono dia do assassinato da soldado da Polícia Militar Juliane dos Santos Duarte. Mulheres, negras, de origem humilde e defensoras da sociedade, seus assassinatos têm sido tratados de formas diferentes.

Marielle continua no noticiário, defendida por entidades de direitos humanos e pela imprensa que, por meio de reportagens, "cobra" o esclarecimento do crime. É assim que deve ser. Mas a soldado Juliane foi esquecida, não ocupa nem sequer o rodapé da página.

Ela nem seria lembrada agora, não fosse o mau jornalismo praticado por um repórter desta Folha, criticado até pela ombudsman do jornal, por produzir reportagem sem sentido, cheirando a fofoca e ódio pela PM, contrariando o Manual de Redação que norteia seu trabalho.

A Polícia Militar convive diariamente com maus jornalistas que somente transcrevem as informações que se alinham ao seu posicionamento ideológico.

Exemplo recente refere-se à divulgação de pesquisa, pelo Ouvidor das Polícias, com a falsa alegação de que 76% das mortes decorrentes de intervenção policial em 2017 têm indícios de excesso de legítima defesa.

É uma afirmação irresponsável, ideológica e preconceituosa. Certamente ele desconhece a formação dos PMs, que há anos são treinados pelo método Giraldi, reconhecido pela Cruz Vermelha Internacional como o de preservação da vida do agressor e do agente público.

No entanto, as reportagens preferiram destacar o número e os motivos apresentados pelo ouvidor, sem questioná-lo.

No ano passado, foram registradas 643 mortes de pessoas que preferiram o confronto com policiais militares. Este ano, até agora, foram registradas 382 mortes, o que já é um prenúncio de diminuição, ao fim do ano, em relação ao ano passado.

São números infinitamente inferiores à assustadora cifra de 54.076 pessoas que perderam a vida no ano passado por erros em hospitais, noticiada também no dia 15.

O Fórum Brasileiro de Segurança Pública informa que mais de 64 mil pessoas morreram violentamente no ano passado. Somente cerca de 5% dos assassinos vão pagar por esses crimes. São informações que mereceram reportagens com pouco aprofundamento.

Sobre os números da Polícia Militar, no entanto, debruçam-se as ditas entidades de direitos humanos, "especialistas" em segurança pública e críticos que não economizam o verbo para atacar. E a imprensa, salvo honrosas exceções, segue na toada de sempre, transcrevendo o ditado de suas fontes.

Enquanto apenas cerca de 5% dos crimes praticados no país são esclarecidos, 100% das intervenções policiais são investigadas, culminando até em expulsão da corporação e condenação no Tribunal de Justiça Militar ou no Tribunal do Júri.

Ressalte-se que todos os casos de mortes de civis em confronto com a PM têm autoria conhecida: um policial militar. Esses crimes são investigados pela própria Polícia Militar, com inquérito enviado ao Tribunal de Justiça Militar e, por fim, ao Tribunal do Júri, para julgamento popular, com intervenção do Ministério Público no processo, na apuração e na denúncia.

Outro exemplo da rigidez da Polícia Militar em eliminar maus policiais militares (sim, há maus em todos os estratos sociais!) está na notícia veiculada pela Folha, também no dia 15, reportando a prisão de 32 policiais militares, pela PM, com autorização do Tribunal de Justiça Militar, por envolvimento com o tráfico de drogas em Campinas. Estão trancafiados no Presídio Militar Romão Gomes.

No ano passado, 72 policiais militares perderam a vida, e 83 jamais voltarão a trabalhar porque ficaram com sequelas irreversíveis, paraplégicos ou tetraplégicos.

Quem se importa?

Elias Miler da Silva

Coronel da Polícia Militar e presidente da Defenda PM (Associação dos Oficiais Militares do Estado de São Paulo em Defesa da Polícia Militar)

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