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Juliano Medeiros

A verdade em chamas

Incêndio em museu gera ataques à UFRJ e ao PSOL

Funcionários da UFRJ tentam salvar material de pesquisa em meio a incêndio no Museu Nacional
Funcionários da UFRJ tentam salvar material de pesquisa em meio a incêndio no Museu Nacional - Fernando Souza/AdUFRJ

O incêndio que consumiu o Museu Nacional, no Rio de Janeiro, foi a máxima expressão do descaso do Estado brasileiro com a cultura, a memória e a pesquisa científica. Durante sucessivos governos, o museu foi abandonado à própria sorte. Mas a situação se agravou com a política de cortes iniciada em 2015.

A partir de então, o orçamento encolheu, como aconteceu com quase todas as áreas sociais. Os números que atestam essa triste realidade são abundantes, e basta uma rápida pesquisa para atestar o quadro de abandono a que o Museu Nacional e outras instituições semelhantes estão submetidos.

Diante desse cenário, não demorou para que todos percebessem que a tragédia é de inteira responsabilidade do governo federal. A situação das instituições de ensino, pesquisa e preservação do patrimônio foi agravada pela emenda constitucional 95, aprovada no governo Temer, que congela investimentos públicos por duas décadas.

Milhões de brasileiros tomaram consciência de que a política de cortes é a responsável pelo incêndio que destruiu o museu.

Numa tentativa desesperada de lançar uma contraofensiva, as forças do atraso iniciaram uma campanha difamatória contra a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e contra os partidos aos quais alguns de seus dirigentes são filiados.

O reitor da universidade, professor Roberto Leher, e seu partido, o PSOL, foram até aqui as principais vítimas das calúnias disseminadas nas redes socais. Uma delas afirma que os dirigentes da UFRJ receberam R$ 52 milhões para a manutenção do Museu Nacional e que os recursos teriam desaparecido.

Nada mais falso: o contrato de patrocínio firmado com o BNDES garantiu apenas R$ 21,7 milhões, mas a primeira parcela só chegaria em outubro.
 

As mentiras, porém, não se restringiram às redes sociais. Elas também foram parar nas páginas dos grandes jornais. Editorial do jornal O Estado de S. Paulo de quarta-feira (5) engrossa os questionamentos à reitoria da UFRJ. O mesmo foi feito por colunistas desta Folha, como Leandro Narloch, e até pela candidata a vice-presidente na chapa de Geraldo Alckmin, ex-governador de São Paulo, onde dois museus foram vítimas do fogo recentemente.

Mas por que essa disputa de narrativas se estabeleceu tendo o PSOL e a reitoria da UFRJ como os alvos principais? Porque ambos representam um enfrentamento à lógica mercantilista que busca estrangular as instituições de ensino, pesquisa e preservação do patrimônio histórico e cultural.

Mesmo com todas as dificuldades impostas pelas restrições orçamentárias, a atual reitoria da UFRJ garantiu importantes conquistas, como a reforma do Hospital Universitário São Francisco, a implementação do novo campus em Duque de Caxias e a inauguração do restaurante universitário da Praia Vermelha. Enfrentando a política de "austeridade", a gestão da UFRJ assegurou ampliação de direitos.

Disseminar mentiras e atacar o PSOL, partido que combate a política de austeridade e tem entre seus quadros figuras de proa na defesa da educação pública, como o professor Roberto Leher, não chega a ser novidade. O que causa espécie é perceber como essas mentiras encontram guarida em parte da grande imprensa. Na guerra de projetos travada no Brasil, a verdade parece ser é a primeira vítima.

Juliano Medeiros

Historiador e presidente do PSOL

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