Descrição de chapéu

Drama argentino

Desafio imediato é convencer o país de que o remédio amargo do arrocho vai recuperar a economia

O presidente argentino, Mauricio Macri, na Casa Rosada, em Buenos Aires
O presidente argentino, Mauricio Macri, na Casa Rosada, em Buenos Aires - Eitan Abramovich/AFP

Em meio a novos protestos populares e à insegurança generalizada que levou à disparada do dólar e da inflação, o governo argentino se viu sem opções a não ser recorrer novamente ao Fundo Monetário Internacional (FMI) por mais recursos em moeda forte.

O primeiro acordo com o organismo internacional, fechado em julho, falhou em estabilizar a economia, em parte porque os US$ 50 bilhões então colocados à disposição tinham caráter preventivo, com reduzida liberdade de uso. 

Com isso, não foram dissipadas as dúvidas em relação à capacidade da administração Mauricio Macri de obter financiamento no mercado. Como a desvalorização do peso e a escalada dos juros prosseguiram, as condições acordadas rapidamente perderam eficácia.

Na nova versão do acerto, o FMI aumentou o valor do empréstimo para US$ 57 bilhões. O mais importante é que a quantia poderá ser usada livremente, desde que cumpridas as metas de ajuste, para cobrir o rombo no Orçamento. 

A velocidade de desembolso também será maior —US$ 19 bilhões a mais até o fim do próximo ano. Na prática, o governo não precisará recorrer aos mercados neste período, o que pode contribuir para eliminar os temores de insolvência. 

Em troca, a Casa Rosada se comprometeu a acelerar o reequilíbrio das contas públicas e zerar o déficit primário (o saldo entre receitas e despesas, sem considerar o pagamento de juros) em 2019, um ano antes do plano original. 

Assim, a estratégia de reforma econômica gradualista adotada desde que Macri chegou ao poder, já cambaleante com o agravamento da crise, foi encerrada. 

Outro complicador é a mudança no regime monetário e cambial prevista no acordo. A Argentina abandonará as metas de inflação, que vinham se mostrando ineficazes, por um controle direto da quantidade de pesos em circulação, que não deverá crescer até meados do ano que vem. 

A aposta é que esse modelo conterá a alta de preços, que atingiu 24% de janeiro a agosto e poderia chegar a mais de 40% em 2018. Fica mais uma vez claro que a nação vizinha continuará a ter dificuldade para superar sua cultura de dolarização e alimentar a confiança da sociedade em sua moeda.

O desafio imediato é convencer o país de que o remédio amargo do arrocho, fiscal e monetário, de algum modo vai recuperar a economia. Há ainda que aprovar o Orçamento no Congresso em meio a uma recaída recessiva. Macri corre o risco de terminar seu mandato em 2019 sem crescimento nenhum.

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