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Sergio Vale

É grande o risco de recessão já em 2019? SIM

A crise agora ou mais tarde

População procura ofertas de emprego na rua Barão de Itapetininga, no centro de São Paulo - Danilo Verpa - 29.jun.16/Folhapress

Recessões são eventos econômicos relativamente comuns. O Brasil passou 35% dos trimestres desde 1981 em recessão. Pode parecer algo elevado, mas os EUA passaram por recessão em 34% do tempo também desde 1981. A diferença é a quantidade de recessões. Enquanto os EUA tiveram quatro delas, nós tivemos nove. Ou seja, em média tivemos uma recessão a cada quatro anos no Brasil. Não saberia dizer se é recorde, mas certamente é uma referência preocupante.

Essas recessões foram geradas por um conjunto de eventos domésticos e externos, sendo a maioria das causas, como era de se esperar, domésticas. As origens domésticas são variadas, mas nos remetem a algum grau elevado de má condução da política econômica. O caso mais recente veio do governo Dilma, cuja conjunção de inabilidade política com esgarçamento das políticas fiscal e monetária levou a maior recessão de nossa história.

Estamos saindo da última crise e novamente nos deparamos com a questão se há possibilidade de nova recessão no próximo mandato presidencial. Infelizmente, a resposta parece ser sim.

A eleição parece que ficará nas mãos de dois candidatos com visões extremistas. De um lado, difícil acreditar que Haddad vá conseguir domar sua tropa de keynesianos ávidos para desmontar o novo regime fiscal que foi iniciado em 2016.

A simples não realização das reformas necessárias, especialmente a da previdência, terá o papel de mostrar aos investidores que o governo não quer fazer o ajuste fiscal mesmo tendo uma dívida próxima de 80% do PIB e crescente. Não será fácil manter e aperfeiçoar o regime fiscal criado se não houver crença dentro do próprio partido do presidente que isso é necessário.

Aqui não me parece ser suficiente trazer um grande nome de mercado, pois o problema não é apenas econômico, mas político, como vimos no dueto Dilma-Levy que naufragou. A não aprovação das reformas necessárias afugentaria o mercado, causando depreciação cambial mais intensa, com a sequência inflação-juros altos-recessão que já conhecemos tão bem. Uma recessão num governo Haddad poderia vir mais rapidamente.

Do outro lado, o ultraliberalismo de Paulo Guedes parece não casar com seu chefe. Pelas idas e vindas da equipe econômica de Bolsonaro, poderemos perder tempo enquanto se tenta a enésima versão de uma reforma da previdência que, aqui também, terá dificuldade de passar pela parca composição política do possível presidente.

Seu temperamento certamente provocará dificuldades com o Congresso permanentemente. Sem falar nos riscos de autoritarismo que podem surgir de um governo Bolsonaro. Por exemplo, no ano do autogolpe de Fujimori no Peru em 1992 o PIB caiu 0,5%. Pode parecer absurdo falar em autogolpe, mas basta lembrar que isso foi sugestão do candidato a vice-presidente, general Mourão. Uma recessão num governo Bolsonaro poderia vir mais tarde, após as tentativas frustradas de reforma.

Nos dois casos, a falta de um controle nos gastos da previdência pode forçar a um ajuste mais severo na arrecadação. Mas diversos estudos têm mostrado que ajustes fiscais baseados em aumentos de impostos em uma economia ainda enfraquecida só aprofundam a recessão.

Mais preocupante ainda, não parece haver vontade de nenhum dos dois lados de baixar as armas. O clima de destempero que estamos vivendo atualmente e que pode voltar às ruas tem grande probabilidade de continuar com qualquer um que vença. 2019 e os anos seguintes poderão ver novas manifestações populares, talvez em um grau mais elevado do que se viu até 2016. Durma com uma crise dessas.

Sergio Vale

Mestre em economia pela Universidade de Wisconsin (EUA) e economista-chefe da MB Associados

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