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Fernando M. Fernandes

O Brasil do fenômeno Bolsonaro

Em sua história na política, ele não vendeu seus princípios

Fernando Fernandes (centro, em 1º plano), junto com outros apoiadores de Bolsonaro, no Rio de Janeiro - Raquel Cunha - 2.ago.18/Folhapress

Para compreender o fenômeno Bolsonaro, precisamos romper com os estereótipos e ir além da disputa rasteira que se tornou o debate público brasileiro. É necessário observar três aspectos: o primeiro é um fator histórico típico da realidade brasileira de nossos ciclos de mudanças; o segundo é o momento que a política internacional vive; e, por último, deve-se observar a profunda mudança de perfil eleitoral que o Brasil está experimentando.

O dado histórico é que o Brasil vive ciclos de mudanças em seu cenário político que ocorrem a cada 30 anos. Há 30 anos, Collor chegou ao poder por um partido pequeno, o PRN, assim como Jânio Quadros, 30 anos antes dele, pelo minúsculo PTN. Em ambos os casos, esses ex-presidentes enfrentaram grandes estruturas partidárias e venceram embalados pela onda de renovação, com campanhas baseadas especialmente no combate aos corruptos. 

O movimento que vemos se fortalecer agora começou com as manifestações de 2013, indicou uma tendência para as eleições de 2014 e 2016, ganhou corpo com as revelações sobre o sistema criminoso institucionalizado na Era PT, exposto pela Operação Lava Jato e pelas manifestações pró-impeachment de Dilma Rousseff. 

Portanto, 2018 tende a ser o ápice de uma longa lista de acontecimentos que refletem uma mudança profunda e estrutural no perfil eleitoral do Brasil.

O eleitorado não suporta mais o "rouba, mas faz", deixou de ver no PSDB uma oposição real ao PT, substituiu majoritariamente o jornal e a televisão e passou para as redes sociais.

Além disso, graças ao esforço e senso de oportunidade ímpar do mercado editorial, passou a ter acesso a autores que antes eram absolutamente negligenciados, como Roger Scruton, Theodore Dalrymple, Thomas Sowell, dentre outros. 

No plano internacional, o Brasil está inserido no espírito da nossa época. Depois de um período longo de governos de esquerda na América Latina e de um projeto de hegemonia cultural fundado nas ideias de Antonio Gramsci (1891-1937), estamos vivenciando seu esgotamento.

Chile, Argentina, EUA, Holanda, Colômbia, Hungria, Paraguai e Peru são exemplos de países que viveram nos últimos anos uma guinada à direita.

O politicamente correto que calava parte considerável de vários povos está perdendo poder. No Brasil, deixou de ser um horror se declarar conservador ou de direita. E despertamos para uma realidade: somos maioria. Mas, afinal, o que fez Jair Bolsonaro chegar aonde está?

Foi ele mesmo. Em sua história na política, Bolsonaro não aceitou cargos, não vendeu seus princípios, não serviu à mentira nem moderou a verdade. Nunca teve medo de perder o mandato e, fazendo oposição solitária no auge do governo Lula, acabou sendo nacionalmente reconhecido por seus posicionamentos. O que, aliás, hoje lhe rende a fidelidade de seu eleitorado. 

Frequentemente gostam de comparar Bolsonaro a Trump. E, de fato, podemos dizer que duas semelhanças eles têm. Em primeiro lugar, o atual presidente americano falava aos desempregados, aos miseráveis, desesperançados e às vítimas do sistema político americano, tornando-se acessível às necessidades da população. Além disso, seus eleitores foram tratados como "deploráveis" por seus adversários, pela mídia e por seus opositores. 

Isso não é diferente do que se tem feito com os eleitores de Bolsonaro. O reacionário de Nelson Rodrigues, aquele que reage a tudo que não presta, deixou de ter vergonha de se posicionar. Resolveu enfrentar o politicamente correto, resolveu ir às ruas e fazer campanha de graça. Eleitor ferido é eleitor aguerrido e motivado.

Fernando M. Fernandes

Bacharel em direito pela UFRJ e mestrando em ética e filosofia política pela UERJ

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