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Vinicius Lummertz

Sem o turismo a conta não fecha

Setor pode trazer recursos para financiar outras áreas

O ministro do Turismo, Vinicius Lummertz, em seminário da Folha em março, quando era presidente da Embratur - Bruno Santos - 15.mar.18/Folhapress

O período eleitoral num país emergente como o Brasil reforça o debate sobre temas básicos como saúde, educação, segurança e saneamento. Os políticos apresentam novos modelos de gestão e firmam o compromisso de elevar os padrões de qualidade dos serviços entregues à população, mas não falam quem vai pagar a conta.

Com o Brasil produzindo um quarto dos mercados mais eficientes e com um déficit público nominal de R$ 562,8 bilhões, a discussão sobre a fonte que vai custear o estado de bem-estar de direito é fundamental. Melhorias de gestão, combate à corrupção e enxugamento da máquina pública são desejáveis, mas insuficientes para o país entregar os benefícios sociais que a população deseja.

Não é possível criar uma democracia social por decreto. A saída passa, necessariamente, pelo aumento da produtividade e busca de novos investimentos com a melhoria do ambiente de negócios. Na captação do empreendedor genuíno, com recursos e know how para começar um negócio do zero, gerando novos empregos, o turismo surge como solução óbvia para impulsionar um novo ciclo de desenvolvimento no país.

O Brasil tem a maior diferença do planeta entre o realizado e o potencial no setor de viagens e turismo. De acordo com o Fórum Econômico Mundial, estamos em primeiro lugar no mundo num ranking com 136 nações no quesito atrativos naturais, mas recebemos pouco mais de 10 milhões de visitantes nas unidades de conservação, enquanto os Estados Unidos recebem mais de 300 milhões de pessoas.

O setor de viagens e turismo é uma pauta moderna e alinhada com as melhores práticas globais. De acordo com a WTTC, o setor foi responsável pela criação de um em cada cinco empregos no mundo na última década. Não por acaso, países conhecidos por serem especialistas em planejamento de longo prazo, como o Japão e a China, têm focado no setor.

Mais de 1,3 bilhão de pessoas viajaram pelo mundo no último ano, mas menos de 0,5% delas escolheram o Brasil como destino. Enquanto os brasileiros deixaram US$ 19 bilhões nos destinos internacionais em 2017, os estrangeiros injetaram apenas US$ 5,8 bilhões na economia nacional, um déficit de US$ 13,2 bilhões.

Apostar no desenvolvimento econômico de um país pelo turismo é entender o efeito cascata de um setor que impacta 52 atividades. Um setor que compra um carro a cada quatro minutos, 6 milhões de roupas de cama e banho, 120 mil televisões e 140 mil telefones por ano.

O mundo nunca esteve tão conectado, mas o Brasil está à margem da comunidade global. Atualmente estamos na 96ª colocação no quesito abertura internacional. No discurso, a defesa do turismo no país é unanimidade. Mas, na prática, a teoria é outra.

Estamos na 106ª colocação no quesito priorização do turismo. O Brasil direciona apenas 6,1% do PIB para investimentos em turismo, enquanto a Grécia investe 15,9%, Chile 10,5%, Portugal 10,2% e Espanha 7,7%. Em números absolutos, enquanto os EUA investiram US$ 302 bilhões e a China US$ 216 bilhões no setor, o Brasil aportou só US$ 28,5 bi no setor no último ano.

No Brasil o turismo é encarado como vagão, quando, na verdade, é locomotiva. Não há nenhum outro setor no Brasil capaz de gerar 2 milhões de empregos nos próximos quatro anos. Defender a social-democracia, saúde, segurança e educação sem mostrar quem arca com os custos é demagogia. E, sem o turismo, a conta não fecha.

Vinicius Lummertz

Cientista político, ministro do Turismo desde abril e ex-presidente da Embratur

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