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Leandro Machado

A eleição da tecnologia

Entregar ao cidadão ferramentas simples é o mínimo que se espera de movimentos comprometidos com a democracia

O cientista político Leandro Machado, em foto de 2017 - Adriano Vizoni - 14.abr.17/Folhapress

Há anos a tecnologia vem modificando a forma como vamos às compras, nos relacionamos e nos informamos. Mas, até pouco tempo atrás, essas ferramentas raramente chegavam ao campo político. As eleições de 2018 mostram uma mudança clara nesse cenário: das notícias falsas à polarização, das campanhas por redes sociais às plataformas de matching eleitoral, este pleito será lembrado, no futuro, como o primeiro em que a tecnologia dominou a cena.

O avanço das Tecnologias de Informação e Comunicação (TICs) tem impactado a forma como vivemos: as distâncias foram encurtadas, a transparência ganhou aliados e a queda de barreiras de acesso da população à produção e à distribuição de conteúdo fez com que muitas ideias bacanas viessem à tona. Mas a tecnologia ubíqua tem seu lado sombrio: ela é combustível para a polarização política exagerada e para as notícias falsas, que já existiam em períodos eleitorais quando o rádio, a TV e o boca-a-boca ainda reinavam.

O mundo hiperconectado exacerba esses problemas, mas igualmente abre aos eleitores a oportunidade de se informar melhor para escolher seus representantes. Em 2018, vimos florescer uma série de iniciativas com esse objetivo. O Match Eleitoral, desta Folha, é um serviço indispensável para quem busca se informar sobre candidatos a deputado Federal em São Paulo, em Minas Gerais e no Rio de Janeiro.

Já o #TemMeuVoto, iniciativa apartidária e independente da qual sou coordenador, nasceu com o mesmo intuito – mas com uma pretensão nacional, abrangendo todo os candidatos ao Legislativo.  O #TemMeuVoto começou a ser desenvolvido no primeiro semestre, quando cerca de quinze movimentos da sociedade civil somaram forças para entender quais as principais dificuldades dos brasileiros na hora de escolher seus candidatos. Com base nisso, foi criada uma solução para facilitar a escolha dos nossos representantes no Senado e Câmaras Federal e estaduais.

Essas iniciativas caminham lado a lado com a transformação da própria sociedade e da dinâmica eleitoral brasileira. A relação entre tempo de TV e conquista de votos deixou de ser automática. Em 2008, o pico de audiência do horário eleitoral foi de 22 pontos no Ibope; em 2016, foi de apenas 6 pontos. Já a influência da internet cresce sem parar. Números do Facebook apontam que há cerca de 90 milhões de usuários ativos do WhatsApp no Brasil – uma multidão que acessa, em média, 30 vezes ao dia no celular para checar essas duas redes sociais.

Entregar ao cidadão ferramentas simples e transparentes é o mínimo que se espera de movimentos comprometidos com a democracia. Já que a tecnologia está por toda parte, estava mais do que na hora de unir forças para dar ao cidadão a chance de, por meio dela, traduzir sua visão de mundo em escolhas eleitorais conscientes.

Há, no entanto, uma dimensão que a tecnologia não substitui: a humana. Talvez o momento de votar seja o único em que todos os cidadãos e cidadãs têm exatamente o mesmo poder: é o eleitor que dá a última palavra, por meio do voto. Portanto informe-se, escolha aqueles candidatos que têm o perfil que você deseja e, acima de tudo, vote. A tecnologia ajuda, mas o voto é nossa maior arma para virar o jogo.

Leandro Machado

Cientista político, coordenador do #TemMeuVoto, cofundador do movimento Agora! e sócio-fundador da consultoria Cause

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