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China profunda

Política de detenção em massa alerta sobre face sombria do governo no interior da China

Uigures passam por retrato de Mao Tse Tung em Xinjiang - Toni Pires
 

Muito em razão da inaptidão de Donald Trump para o natural papel de líder global, o chefe do regime chinês, Xi Jinping, tem se aproveitado do vácuo para se mostrar ao mundo como arauto do livre comércio e da paz internacional. O lustro na imagem externa, porém, não raro se desfaz quando vêm à tona relatos das entranhas da China.

Exemplo recente são as denúncias, feitas pela ONU e por ONGs em defesa dos direitos humanos, de que o governo da província de Xinjiang (extremo oeste) mantém, de forma compulsória, até 1 milhão de uigures —etnia de maioria muçulmana baseada nessa região— em campos de “reeducação”.

De acordo com depoimentos de quem foi enviado para esses locais, os internos são obrigados a frequentar palestras sobre as leis chinesas, a cantar hinos de louvor ao Partido Comunista e ao líder Xi e a escrever textos de autocrítica. Em suma, acusam eles, o intuito é levá-los a abandonar a religião islâmica e os hábitos locais.

No último dia 11, Pequim anunciou a regulamentação do que chamou de “centros de treinamento e educação para habilidades ocupacionais” em Xinjiang.

Essas instituições, conforme diz o documento, se destinam a pessoas influenciadas pelo extremismo —uma definição genérica o suficiente para abarcar qualquer atitude que o partido entenda como ameaça ao regime.

Nas palavras do governador da província, Shohrat Zakir (de origem uigur, inclusive), trata-se de “estagiários”, para os quais é oferecida a chance de buscar uma “vida moderna e civilizada”.

Com efeito, o governo central repreende há décadas movimentos uigures que ou resistem à cultura da etnia chinesa majoritária (han) ou lutam por um Estado próprio. A ascensão de Xi recrudesceu a perseguição, o que se pode constatar por esse programa.

Não se tinha conhecimento de uma política de detenção em massa —ao fim e ao cabo, é a isso que se prestam os tais centros, ao que tudo indica— dessa magnitude desde os tempos de Mao Tsé-Tung (1893-1976), líder da Revolução de 1949.

Aliás, o atual dirigente do regime ditatorial tem estimulado um culto à personalidade que o aproxima de Mao. A remoção do limite de dois mandatos, em março, abriu caminho para Xi se perpetuar no poder, nos moldes do fundador da China comunista.

A existência dos campos de Xinjiang ensejou devida condenação internacional e serviu para alertar ao restante do mundo que a pujante e moderna China ainda guarda uma face sombria em seu interior.

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