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Drogas e mortes

Estudo joga luz sobre a questão do consumo de substâncias por vítimas na cidade de São Paulo

Briga em bar termina com a morte de uma pessoa na capital paulista
Briga em bar termina com a morte de uma pessoa na capital paulista - Ronaldo Silva - 5.jul.18/Futura Press/Folhapress

As taxas de homicídios dolosos e de mortes de trânsito no Brasil, é notório, situam o país entre os mais violentos do planeta. No ano passado, registraram-se quase 56 mil assassinatos intencionais, ou 27 por 100 mil habitantes. Em 2016, pelo dado mais recente, 38 mil vidas foram ceifadas em ruas e estradas nacionais, cerca de 19 por 100 mil.

Diante dessa carnificina cotidiana, deve-se exigir das autoridades nada menos que a busca de estratégias mais efetivas para a prevenção desses óbitos. Países desenvolvidos, já há algumas décadas, passaram a adotar com sucesso políticas públicas ancoradas em evidências empíricas. Nem sempre é o que ocorre por aqui, no entanto.

Tome-se o exemplo da associação entre a ingestão de álcool e o aumento da violência interpessoal (homicídios e agressões) e dos acidentes de trânsito. Embora a relação esteja bem estabelecida na literatura da área, praticamente inexistem no país dados sobre o consumo da substância pelas vítimas.

Estudo recente conduzido por pesquisadores da Faculdade de Medicina da USP e noticiado por esta Folha jogou luz sobre tal questão na cidade de São Paulo.

Os pesquisadores analisaram amostras de sangue de 365 vítimas de crimes violentos. Constatou-se que em 55% dos casos havia traços de álcool ou outras drogas.

São muitos os fatores que concorrem para um assassinato, mas pessoas sob o efeito dessas substâncias estão mais sujeitas a precipitar situações de risco, como brigas ou provocações. Terminam, ademais, tendo diminuída a sua capacidade de tomar decisões que as protejam, expondo-se, assim, a cenários de violência.

Não surpreende que o fechamento de bares após certo horário tenha mostrado efeito em situações extremas, como era a de Diadema (SP) no começo dos 2000.

Já entre as vítimas de acidentes de trânsito analisadas no trabalho, chama a atenção o alto percentual de casos (43%) que mostraram resquícios de álcool no sangue.

Embora o país conte há uma década com severa legislação sobre o tema, a taxa indica que o diploma deveria ser mais efetivo em seu propósito. Leis como essa não devem ter a meta de apreender transgressores, mas de criar a percepção de que aqueles que a infringirem serão pegos e punidos.

O estudo deveria servir de exemplo para que o país invista na geração contínua de dados como esses. Assim será possível identificar as causas dos problemas, avaliar a efetividade das políticas públicas adotadas e orientar a formulação de novas estratégias.

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