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O caso Kavanaugh

Fato evidencia uma inflexão na maneira como americanos enxergam denúncias de agressão sexual

Grupo protesta contra Brett Kavanaugh, juiz indicado por Donald Trump à Suprema Corte
Grupo protesta contra Brett Kavanaugh, juiz indicado por Donald Trump à Suprema Corte - Andrew Caballero Reynolds/AFP

Caminha para um desfecho, após  pouco mais de um mês, o impasse em torno da confirmação do juiz indicado por Donald Trump para ocupar um assento na Suprema Corte dos Estados Unidos.

A despeito do provável aval do Senado ao nome do juiz Brett Kavanaugh —acusado de agressão sexual por três mulheres em sua época de estudante, no começo dos anos 1980—, o caso evidencia uma inflexão na maneira como a sociedade americana enxerga denúncias dessa natureza.

Uma vez vindas à tona, as alegações repercutiram de tal forma que o pedido de uma investigação do FBI para esclarecer os episódios contou com o apoio de senadores republicanos. Estes, por serem maioria, poderiam aprovar Kavanaugh sem levar em consideração os testemunhos contra ele.

Concluído nesta quinta (4) e entregue a Trump e ao Congresso, o relatório da polícia federal não traz elementos que comprovem as acusações, de acordo com a Casa Branca. Parece provável que a bancada republicana se ampare no documento para pôr fim ao imbróglio e votar a indicação em plenário.

Compreende-se, em certa medida, opositores democratas e grupos que combatem a violência contra mulheres questionarem a utilidade do trabalho dos agentes.

Por se tratar de uma apuração solicitada pelo Executivo, fixou-se o estreito prazo de uma semana para sua realização —além da limitação da quantidade de pessoas a serem ouvidas, segundo relatos da imprensa local.

O resultado, decerto, frustra as denunciantes, mas cumpre reconhecer que o escrutínio pelo qual Kavanaugh passou, em especial no tocante às suspeitas de abuso, reflete mentalidade bastante diversa de outro caso envolvendo um indicado ao Supremo.

Fala-se aqui do depoimento de Anita Hill em 1991, no processo de sabatina de Clarence Thomas.
Ela, que dizia ter sofrido assédio quando chefiada por ele em um órgão do governo, foi várias vezes colocada em descrédito pelos senadores. Parte deles minimizou a acusação, dando a entender que não se justificava investigar Thomas apenas por esse motivo.

Passados 27 anos, ainda persistem comportamentos semelhantes —Trump, por exemplo, debochou de uma das acusadoras de Kavanaugh, que declarou não se lembrar de detalhes da suposta agressão por ter consumido bebida alcoólica. A diferença é que, hoje, atitudes como essa recebem a devida reprovação pública.

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