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O mercado e o voto

Plataforma econômica de Bolsonaro, ou o que se conhece dela, agrada mais ao setor privado

Após primeiro turno da eleição presidencial, cotação do dólar recuou
Após primeiro turno da eleição presidencial, cotação do dólar recuou - Gabriel Cabral/Folhapress

Contabilizada a liderança por ampla margem de Jair Bolsonaro (PSL) sobre Fernando Haddad (PT) no primeiro turno das eleições, o mercado financeiro reagiu com euforia, na forma de queda expressiva das cotações do dólar e alta das ações negociadas em Bolsa.

A muitos tal comportamento pode parecer abjeto, por escancarar a preferência por um candidato, ou surpreendente, tendo em vista a falta de clareza do programa de governo e as demonstrações de despreparo do preferido.

É fato inconteste, contudo, que a plataforma econômica de Bolsonaro, ou o que se conhece dela, agrada mais ao setor privado que a de seu adversário. 

Paulo Guedes, conselheiro do presidenciável, defendeu a permanência do teto para os gastos federais inscrito na Constituição, além de propor uma reforma da Previdência até mais ampla do que a tentada pelo governo atual.

Ademais, prega privatizações, um redesenho tributário profundo e a redução do custo de contratação com carteira assinada para reforçar a geração de empregos.

Em termos genéricos, trata-se de uma agenda meritória, o que por ora não diz muito —a depender da intensidade, do planejamento e da execução das medidas, os resultados podem ser bons ou ruins, excelentes ou catastróficos.

Há incertezas cruciais. Fala-se em simplificar e até em reduzir a carga tributária, mas não se entende como isso se compatibiliza com a busca do equilíbrio orçamentário.

Tampouco se sabe como seria viabilizada a proposta de um regime de capitalização para a Previdência, em que os novos se aposentariam com o que poupassem ao longo da vida produtiva —quem pagaria por aqueles que se aposentarão pelo regime atual?

Tais incógnitas têm sido relevadas, em boa parte, diante dos temores inspirados pelo plano de governo de Fernando Haddad.

A equipe do petista não se compromete claramente, por exemplo, com as mudanças previdenciárias, que têm sofrido oposição feroz da legenda. Vitupera ainda contra o teto de gastos, sem explicar como vai evitar o crescimento descontrolado da dívida pública.

Ensaia-se um discurso mais pragmático, visando a aproximação com o setor privado, mas até aqui sem grande convicção.

Qualquer mercado é amoral por natureza, ao fixar os preços de ativos e mercadorias conforme as informações disponíveis. Estas podem mudar em questão de minutos, o que, no caso em tela, dependerá dos esclarecimentos que os candidatos estão a dever.

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