Descrição de chapéu
Miguel de Almeida

Um PSDB para chamar de seu

Partido deixou vago o espaço do centro político

Miguel de Almeida, em evento em São Paulo em 2013 - Zanone Fraissat - 9.abr.13/Folhapress

Talvez você não saiba, mas você precisa de algo assim como um"¦ PSDB. Pode até negar, torcer a boca em esgar, só que o Brasil, para ser moderno, necessita de um partido de massas de centro. À esquerda, há o PT; à direita, havia o falecido PFL de Marco Maciel, e hoje há uma confusão de mal-intencionados; talvez o Novo possa ocupar o espaço.

A quantidade de votos nulos, brancos e abstenções no primeiro turno (espere só para ver a lambança do segundo) exibe o enorme espaço do centro político brasileiro. Vazio. À espera de ser ocupado por um partido como o velho PSDB de guerra.

Não pelo atual.

O PSDB, dos bons, começou a naufragar em 2002, quando FHC fez corpo mole e preteriram Tasso Jereissati à Presidência da República. O candidato José Serra chegou à campanha com a convicção, quer dizer, sem nenhuma convicção.

Em lugar de defender a estabilidade econômica alcançada por FHC-Malan-Franco-Arminio, os avanços trazidos pelas privatizações, mostrou-se dúbio, inseguro inclusive sobre as próprias ideias. É um caso raro de duvidar de si próprio. Eleitor não gosta de corpo mole.

Em 2006, Geraldo Alckmin foi ao pleito ainda menos convicto. Eram evidentes os benefícios das privatizações (telefonia, estradas, Vale etc), só que os luditas-petistas o assustaram, e lá foi ele se vestir de petrolino. Palhaçada e medo não dão voto.

O fim do velho PSDB ocorre com Aécio Neves (toc, toc), em 2014. Enfrentou Dilma Rousseff com a convicção de quem entra num outlet da Osklen. Você revê suas entrevistas e percebe por que acabou derrotado. Teve milhões de votos porque buscava-se desesperadamente um anti-PT. 

Aécio será ele mesmo, sem marketing, nos diálogos olhos-nos-olhos com Joesley Batista. Naquela sua linguagem boca de fumo.

Ano passado, o futuro do PSDB de novo passou pelas mãos de Tasso Jereissati. Mas o partido não quis guilhotinar Aécio, preferiu fechar com Temer, manteve uns carguinhos (Aloysio Nunes, que vergonha!) e insistiu em Geraldo Alckmin, que jamais condenou publicamente a traição de Aécio Neves.

Tasso seria o dado novo, em 2002 e 2018. Quando Alckmin fala grosso, como Tasso, o eleitor desconfia. Não é de seu feitio.

O final desse PSDB melífluo, oportunista e invertebrado se dá agora sob o comando de João Doria Jr. Coxinhas do partido, como Beto Richa e Marconi Perillo, êmulos do companheiro paulista, ficaram lá atrás pelas urnas.

O discurso malufista de segurança pública foi derrotado em 1998 por Mario Covas, que nunca escondeu o que pensava --mesmo perdendo votos-- e nunca mudou de opinião para ganhar eleição.

O eleitor do centro democrático deseja um capitalismo moderno, não estatizante, mas não concorda com a ideia de autorizar a polícia a matar primeiro e depois perguntar. Deseja a reforma previdenciária, porque afinal as pessoas estão vivendo mais, só que não quer ver espigões subindo em áreas áreas verdes ou de mananciais. O discurso liberal não pode dizimar com a vontade das minorias ou com questões polêmicas, como descriminalização de drogas ou do aborto. O corpo é meu, não do Estado. 

Ao dar voz a Aécio, João Doria e Perillo, personagens da velha direita em trajes de tiozinho da Sukita, o PSDB se afastou da agenda modernizadora de centro, capaz de contemplar a economia liberal e a liberação nos costumes. Sem deixar de prever programas sociais, como os criados por Ruth Cardoso e Vilmar Farias e malandramente encampados por Lula. Não podemos esquecer que a escola de Chicago já matou mais gente do que Al Capone.

Miguel de Almeida

Escritor e diretor dos documentários "Não Estávamos Ali para Fazer Amigos" e "Tunga, o Esquecimento das Paixões"

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