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Valerii Hryhorash

A tragédia ucraniana

Vítimas da fome de 1932-33 serão sempre lembradas

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Ucranianos prestam homenagem às vítimas nos 80 anos do Holodmor, em 2012 - Sergei Supinsky - 24.nov.12/AFP
Valerii Hryhorash

Entre os mais comoventes atos de terror e perseguição do século 20 situa-se a Grande Fome na Ucrânia, conhecida como Holodomor ("morte pela fome"), artificialmente provocada nos anos de 1932 e 1933.

Nos anos 20 e 30 do século passado, a Ucrânia era vista pelas autoridades soviéticas como uma república com fortes tradições nacionais e com potencial econômico e humano. Isso unia o país, que foi contra a teoria leninista do socialismo de unificação das nações.

Nas palavras de Lênin, "perder a Ucrânia é perder a cabeça". Por isso, o governo soviético recusou-se a reconhecer o direito dos ucranianos de serem independentes porque o Estado soviético não podia existir sem os cereais, carvão, açúcar etc. que eram produzidos na Ucrânia.

O Kremlin elaborou um programa radical de coletivização forçada da terra e confisco das reservas de alimentação. Com isso, na primavera de 1932 agravou-se a situação alimentar na Ucrânia, o que provocou a fome.

Por ordem do Kremlin, as tropas internas e a polícia organizaram "bloqueios alimentares" nas fronteiras ucranianas. Essa decisão não foi aplicada em nenhuma outra região administrativa da União Soviética ou da república.

A expropriação dos cereais provocou a terrível fome de 1932-1933 -- as estimativas mais moderadas indicam cerca de 7 milhões de mortos. Na primavera de 1933, a mortalidade na Ucrânia tornou-se catastrófica --por dia morreram 28 mil pessoas, 1.168 pessoas por hora, quase 20 pessoas por minuto.

Tudo isso foi feito na presença de grandes estoques de grãos em fundos de reserva centralizados. Essas ações confirmam a intenção da liderança soviética de destruir parte da nação ucraniana em determinado período. Desse massacre orquestrado por Stálin resultaram milhões de mortos, executados por motivos religiosos e ideológicos.

O regime stalinista recusou a assistência oferecida por inúmeras organizações não governamentais, em particular as comunidades estrangeiras ucranianas e a Cruz Vermelha Internacional.

O genocídio na Ucrânia em 1932-1933 é confirmado por 3.456 documentos confirmando a morte em massa da população por fome artificial --documentos de arquivo de missões diplomáticas de Estados estrangeiros.

As autoridades de Kiev e as comunidades da diáspora ucraniana, sediadas nos continentes americano e europeu, desenvolvem iniciativas conducentes à obtenção do reconhecimento desse crime.

Vários países e organizações internacionais condenaram o Holodomor como ato de genocídio ou crime contra a humanidade.

São 14 as nações que assim o reconhecem: (em ordem cronológica) Estônia, Austrália, Canadá, Hungria, Lituânia, Geórgia, Polônia, Peru, Paraguai, Equador, Colômbia, México, Letônia e Portugal.

No Brasil, órgãos legislativos municipais e a Assembleia Estadual do Paraná aprovaram resoluções para lembrar as vítimas do Holodomor.

O Dia de Memória do Holodomor é celebrado anualmente, sempre no quarto sábado de novembro.

Em todo o mundo, milhares de ucranianos reúnem-se nesta data para homenagear aqueles que pereceram numa catástrofe humana sem precedentes.

Valerii Hryhorash

Cônsul da Ucrânia em São Paulo

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