Leiam a revista The Economist, o jornal Financial Times, a newsletter semanal do Banco Mundial, bíblias que são da economia liberal: dizem todos eles que o principal fator para a economia crescer é a educação.
Agora, passem aos economistas e empresários brasileiros: eles mal falam nela (a grande exceção são os economistas da educação, poucos embora ativos, e as fundações e institutos privados). Fala-se em Previdência, em reforma trabalhista, em redução do Estado. Mas a educação é a grande ausente no debate da economia.
Em 23 de agosto de 2015, li nesta Folha um artigo de Henrique Meirelles, então não-ministro; dizia: "O grande problema é a educação. (...) Numa agenda de crescimento, devemos focar na qualidade da educação em primeiro lugar. Ela é essencial para melhorar a competitividade e elevar a renda".
Procurei Meirelles, como conto em meu livro "A Pátria Educadora em Colapso". Eu era ministro da Educação e queria montar parcerias com o PIB, destacando educação básica e ensino técnico, para aumentar produtividade e renda. A conversa não teve continuidade, infelizmente.
Semanas atrás, o brasilianista Riordan Roett dizia ao jornal Valor Econômico que os vários governos brasileiros, no último meio século, não deram à educação pública a importância devida. Resultado: pouca qualificação da mão de obra, pouca competitividade internacional. É o grande tema dos autores estrangeiros.
Mas por que, aqui, esse debate não emplaca? Armínio Fraga, competente que é, nada propôs para a educação em sua entrevista à Folha publicada no último dia 12, na qual teve o mérito de enfatizar que sem ganhos civilizacionais —a inclusão social, o combate ao preconceito— a economia não avançará.
No mesmo dia, os "Economistas do Brasil", grupo de 112 nomes destacados na área, publicaram uma "Carta Brasil", com propostas para o novo governo. A educação aparece em 5 de suas 93 páginas. Eles a incluem entre os fatores necessários à economia. Muito bem. Em geral, defendem o que foi feito nos últimos anos —como a valorização do ensino fundamental e a criação do Fundeb, que garante mais recursos para os entes federados pobres.
A única real novidade proposta é um "índice de efetividade", premiando as melhores escolas públicas. Algumas medidas apontadas como sugestões, como o foco do Fies nos cursos mais bem avaliados, curiosamente, já estão em vigor faz tempo (esta, eu implantei).
Mas faltam pontos importantes. Os "Economistas do Brasil" nem sequer propõem a universalização das creches, defendida por Viviane Senna no encontro com o futuro ministro Onyx Lorenzoni. Mais estranho é omitirem o ensino técnico, quando a retomada de um programa como o Pronatec, aprimorado, injetaria glicose na veia da capacitação dos trabalhadores.
Esquecem a necessária valorização da carreira de professor, o que exige melhor formação e salários, bem como proteção contra as ameaças do factoide Escola sem Partido. Mesmo sendo bom que falem em educação, estão aquém do que dizem os economistas estrangeiros ou do que afirmou Henrique Meirelles em 2015.
Em resumo, falta atenção à importância da educação como fator econômico. Nem Dilma Rousseff, que criou o Pronatec, conseguiu que a pauta da esquerda incorporasse a produtividade do trabalhador e a competitividade de nossas empresas. Na minha experiência no MEC, e mesmo depois dela, o tema principal da esquerda ficou sendo o da inclusão. Mas àquela altura faltava dinheiro para iniciar novos programas ou mesmo ampliar os existentes: talvez a melhor coisa a fazer pela inclusão social fosse levá-la a gerar crescimento econômico.
Isso passaria por dois grandes instrumentos disponíveis: a alfabetização na idade certa, belo programa iniciado no Ceará em 2007, e o fortalecimento do ensino técnico, no qual o Brasil podia —e deve— expandir a participação dos jovens.
É hora de todos entenderem o vínculo necessário entre educação e economia. Ele tem que protagonizar o debate público.
Educação é grande ausente do debate econômico
Falta dimensionar peso do ensino para o crescimento
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