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Linha-dura estadual

Como Bolsonaro, governadores eleitos apostam em retórica de rigor contra criminosos, o que está longe de significar um plano eficaz de segurança

O general de Exército João Camilo Pires de Campos em solenidade no Palácio dos Bandeirantes, em SP
O general de Exército João Camilo Pires de Campos em solenidade no Palácio dos Bandeirantes, em SP - Zé Carlos Barretta/Folhapress

A segurança pública esteve, sem dúvida, entre os temas decisivos para a eleição de Jair Bolsonaro (PSL). Não que o capitão reformado tenha apresentado um plano sólido e coerente para enfrentar o avanço da violência —o que fez foi defender um tratamento duro a bandidos de todos os tipos.

Candidatos a governador adotaram com sucesso discursos semelhantes, notadamente no Sudeste. Os vitoriosos em São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais deram destaque ao tema em suas campanhas.
Sobram motivos, de fato, para que os brasileiros se preocupem com a segurança. Os indicadores da criminalidade, além de elevados, mostram tendência de crescimento, sem que se observe uma reação eficaz das autoridades.

No ano passado houve 55,9 mil homicídios dolosos no país, o que representa uma taxa de 26,9 por 100 mil habitantes (ante 26,4 em 2016). Fora da América Latina e da África, praticamente não se encontram taxas acima de 10.

Mesmo em São Paulo, que tem conseguido reduzir consistentemente os assassinatos há mais de 15 anos, não se viu nada remotamente parecido em relação a outros crimes, que seguem em alta.

Entretanto, se conta com o apoio de parcelas expressivas da população, a retórica de Bolsonaro e seus adeptos não oferece, infelizmente, uma solução promissora para a escalada da violência.

Como qualquer política pública, enfrentar criminosos envolve, além de recursos e decisão de governo, pesquisa e experiência acumulada. Há medidas que, embora não despertem a atenção geral, produzem resultados; outras, de maior apelo, podem se revelar inócuas ou até contraproducentes.

Ideias como a do governador eleito do Rio de Janeiro, Wilson Witzel (PSC), de "abater" qualquer um que seja encontrado carregando fuzis, mesmo que não entre em confronto com a polícia, estão certamente no segundo caso —​para nem mencionar as muitíssimas dúvidas que cercam sua legalidade.

Em tal hipótese, traficantes possivelmente deixariam de ostentar seus armamentos mais pesados, mas não de vender drogas ou cometer outros crimes, inclusive aqueles em que utilizam o fuzil.

Colocar militares no comando de secretarias estaduais —​como pretendem o paulista João Doria (PSDB) e outros governadores eleitos—​ decerto não deve ser encarado como alguma violação à normalidade democrática, mas tampouco altera os desafios do setor.

A penúria orçamentária, que afeta a todos, tão cedo não será superada. Há que progredir em gestão, com uso intensivo de dados e inteligência, e na colaboração entre as polícias. É nisso, não em bravatas linha-dura, que se deve apostar.

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