Descrição de chapéu

Não é destino

Consistência da política econômica ao longo de décadas ajuda a explicar sucesso chileno

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Protesto contra o regime previdenciário em Santiago - Claudio Reyes/AFP

Projeção do Fundo Monetário Internacional (FMI) aponta que, ao fim deste ano, o Chile será o primeiro país da América Latina a superar o patamar de US$ 25 mil em renda por habitante, no critério que ajusta o valor da moeda conforme o poder de compra.

Tal marca inclui o quase vizinho no grupo de 63 nações (de um total de 192) tidas como ricas, embora não baste para que sua economia figure na lista das avançadas.

O notável sucesso chileno é comumente narrado a partir do choque liberal promovido pela sangrenta ditadura de Augusto Pinochet (1973-1990). Trata-se, entretanto, de uma explicação parcial, até imprecisa, para os resultados obtidos nas últimas décadas.

Mais importante se mostra a consistência da política econômica ao longo de várias décadas, mesmo com alternância de poder entre forças à esquerda e à direita.

Responsabilidade fiscal e monetária, acúmulo de poupança interna, livre comércio e um reconhecido padrão de continuidade na construção institucional foram pilares mantidos a salvo das disputas políticas e ideológicas.

Há muito a avançar, decerto. Na comparação com outros membros da OCDE (entidade que reúne os países mais desenvolvidos), o Chile fica abaixo da média em produtividade, desempenho escolar, igualdade de oportunidades e diversificação da base produtiva.

A economia e a pauta exportadora ainda estão excessivamente concentradas em produtos primários, sobretudo o cobre.

Daqui para frente, há que aprofundar reformas com vistas a maior intensidade de conhecimento e tecnologia. Aprimorar a educação e promover medidas que reduzam entraves ao investimento fazem parte da agenda.

Mais recentemente, até mesmo o regime previdenciário, baseado na capitalização, tem sido questionado. As baixas aposentadorias, que repõem em média cerca de 40% da renda do trabalho, impedem que o sistema atue como um redutor da desigualdade.

A experiência chilena mostra, de todo modo, que subdesenvolvimento não é destino. Superá-lo demanda persistência e disciplina —e um entendimento político e social básico em torno dos objetivos a serem alcançados facilita enormemente o processo.

editoriais@grupofolha.com.br ​ ​ ​ ​

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