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Rubens Hannun

O Brasil deve transferir sua embaixada em Israel para Jerusalém, como propôs Jair Bolsonaro? NÃO

Nosso país sempre atuou pela resolução de conflitos

Palestinos protestam contra plano de Bolsonaro de transferir embaixada em Israel para Jerusalém - Abbas Momani - 7.nov.18/AFP
Rubens Hannun

As relações do Brasil com os países árabes, amistosas pela tradicional posição de neutralidade da nossa diplomacia, sofreram um ruído com o anúncio da mudança da embaixada brasileira em Israel, de Tel Aviv para Jerusalém, cujo território é objeto de disputa entre Israel e Palestina.

A questão é de extrema sensibilidade para os países árabes, que apoiam a Palestina na contenda. O incidente, no entanto, tem impactos além da diplomacia. Os 22 países da Liga Árabe têm conosco um comércio extremamente importante para os dois lados, que no mínimo terá menos condições de se desenvolver se a mudança da embaixada for efetivada.

O comércio Brasil-mundo árabe teve um impulso nos anos 1990, e hoje a corrente é de US$ 20 bilhões. Entre 1997 e 2017, as vendas aos árabes multiplicaram-se por sete, alcançando US$ 13,6 bilhões, resultado que coloca o bloco como a quarta parceria comercial do Brasil no mundo e o segundo maior destino dos produtos do agronegócio.

Numa proporção similar também cresceram as vendas árabes, principalmente de combustíveis, fertilizantes e minerais essenciais, aliás, à pecuária e à agricultura.

Graças aos árabes, o Brasil se tornou líder mundial na exportação de proteína animal halal (produzida segundo os princípios do islã), negócio de US$ 3,5 bilhões por ano. Frigoríficos brasileiros e nossa maior mineradora instalaram-se em países árabes e dedicaram unidades produtivas no Brasil ao atendimento de clientes árabes, gerando milhares de empregos aqui.

Fundos árabes também aportaram no Brasil. Cito os investimentos do fundo saudita Salic no Minerva e na BRF, da DP World, de Dubai, na Embraport, que controla um dos maiores terminais de Santos, e de empresas do Catar na companhia aérea Latam, para ficar nos exemplos bilaterais mais conhecidos.

Criou-se, portanto, um ciclo virtuoso de negócios complementares que são uma força na economia brasileira e, ao mesmo tempo, de importância estratégica para as populosas nações árabes, carentes de solos aráveis e com o desafio diário de alimentar milhares de pessoas.

Não bastasse tudo isso, essa relação pode crescer muito além dos patamares atuais. Os árabes são um mercado de 450 milhões de pessoas em ascensão econômica, que cresce a altas taxas de natalidade, que reconhece a qualidade dos produtos brasileiros e que vai continuar demandante pelas próximas décadas. Além disso, podem nos dar acesso a um total de dois bilhões de consumidores pela reexportação.

Um estudo preparado pela Câmara Árabe e que será entregue em breve ao presidente Jair Bolsonaro mostra que é possível elevar as exportações dos atuais US$ 13,6 bilhões para US$ 20 bilhões em quatro anos, além de fazer do Brasil o destino preferencial dos fundos de investimentos árabes, que detém 40% do capital mundial dos fundos soberanos.

A grande questão é pensar o que se ganha com a alteração de posições históricas em questões sensíveis a um parceiro tão relevante.

O Brasil sempre foi uma força positiva na diplomacia internacional, sendo conhecido por ter relações cordiais e atuar em favor da resolução de conflitos.

A transferência da embaixada seria uma mudança drástica de posicionamento que ainda colocaria em risco hoje e principalmente no futuro um comércio relevante, milhares de empregos e a possibilidade de acessar recursos financeiros de que nosso país tanto precisa.

Rubens Hannun

Presidente da Câmara de Comércio Árabe-Brasileira e administrador de empresas

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