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André Lajst

O Brasil deve transferir sua embaixada em Israel para Jerusalém, como propôs Jair Bolsonaro? SIM

Jerusalém e Brasília: direitos iguais

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Bandeiras de Israel e do Brasil em frente à embaixada brasileira naquele país, em Tel Aviv - Jack Guez - 28.out.18/AFP

Jerusalém é a capital de Israel. Costumeiramente, as embaixadas se localizam na capital de cada país. É assim no Brasil, nos Estados Unidos e no Japão. Em Israel isso não deveria ser diferente. Mas é.

A maioria das representações diplomáticas estrangeiras escolhe se basear em Tel Aviv, apesar de os gabinetes do primeiro-ministro e do presidente israelense, as residências oficiais, as sedes dos ministérios e da Suprema Corte serem situadas na vizinha Jerusalém, assim como a Knesset, o Parlamento.

Em dezembro de 2017, a resolução do governo americano de transferir sua representação oficial para a capital israelense levou a manifestações acaloradas no mundo todo. 

Agora, a possibilidade de o presidente eleito no Brasil realizar o mesmo movimento acirra os ânimos nacionalmente.

Pessoas contrárias à mudança da embaixada brasileira alegam que isso é problemático pelo fato de os palestinos também desejarem Jerusalém Oriental como capital de seu país. A resposta a esse argumento é uma só: assim como o prédio da diplomacia americana, o nosso ficaria na parte ocidental da cidade —também é nessa região, aliás, que estão as demais representações dos Poderes israelenses.

Para entender mais sobre o status da capital israelense, é preciso viajar no tempo. Jerusalém é sagrada para as três grandes religiões monoteístas: islamismo, cristianismo e —judaísmo esta última, a mais antiga. Os judeus estão ininterruptamente entre os habitantes da cidade nos últimos 3.000 anos, mesmo enquanto ela foi conquistada, destruída e reerguida por sucessivos impérios e exércitos, até que, no fim da Primeira Guerra Mundial, os otomanos foram substituídos pelos ingleses, os novos mandatários da região.

Em 1947, a ONU votou favoravelmente à partilha de território entre judeus e palestinos, para a criação de dois Estados. Na configuração então proposta, Jerusalém se tornaria uma cidade neutra, sem pertencer a um ou a outro. Em 1948, depois que Israel declarou sua independência, cinco países árabes declararam guerra contra seu estabelecimento. Uma das consequências disso foi a tomada de Jerusalém Oriental pelos jordanianos. Essa é a parte da cidade onde estão importantes marcos religiosos, como o Muro das Lamentações e a mesquita de Al-Aqsa.

A Jordânia por quase 20 anos controlou a porção leste da cidade e, nesse período, nunca transferiu sua capital para lá ou a deu aos palestinos. Também proibiu os judeus de visitarem seus locais sagrados e destruiu 70 sinagogas jerosolimitas. Só com a Guerra dos Seis Dias, em 1967, Israel conseguiu unificar a cidade e, depois disso, instituiu a liberdade de culto ali, inclusive para a fé islâmica.

Curiosamente, foi só quando a cidade deixou de pertencer à Jordânia que passou a ser vista pelo mundo como alvo da disputa entre israelenses e palestinos. Uma incoerência. Isso nos leva de volta à questão da transferência da Embaixada do Brasil.

Motivos históricos e recentes sustentam o fato de Jerusalém Ocidental ser, indiscutivelmente, território soberano de Israel. A decisão do Brasil de levar sua embaixada para a cidade não traz nenhum empecilho para um futuro acordo entre israelenses e palestinos. Ao tomar uma atitude mais equilibrada em relação a Israel, o Brasil poderá colaborar de forma mais efetiva na busca pela paz que todos desejamos.

André Lajst

Cientista político, é presidente-executivo da StandWithUs Brasil, mestre em contraterrorismo e segurança nacional (Reichman University, Israel) e doutorando na área de ciência política e social, com ênfase no processo de paz palestino-israelense (Universidade de Córdoba, Espanha)

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