Descrição de chapéu

O projeto sumiu

Documentos do viaduto da marginal Pinheiros desapareceram

Viaduto que cede na marginal Pinheiros - Taba Benedicto/Folhapress

O episódio do viaduto da marginal Pinheiros que cedeu na madrugada de 15 de novembro, criando um degrau de dois metros, trouxe à luz deficiências crônicas na manutenção da infraestrutura viária da maior cidade do país.

Sucessivas gestões têm falhado na tarefa, expondo os cidadãos a riscos e transtornos —em boa parte, mas não só, devido a restrições financeiras que atingem, em especial, obras e outros investimentos.

Neste ano, a prefeitura gastou apenas 5,3% do previsto para recuperação e reforço de pontes e viadutos. Dos R$ 44,7 milhões autorizados no Orçamento, R$ 2,4 milhões foram utilizados.

Nessas condições, as autoridades reagem aos acontecimentos, quando deveriam ter agido preventivamente —e a população toma conhecimento da precariedade dos trabalhos de inspeção das vias.

Na segunda-feira (19), o prefeito Bruno Covas (PSDB) anunciou que pedirá autorização ao Tribunal de Contas do Município para contratos emergenciais destinados a providenciar laudos de engenharia relativos à situação de 185 pontes e viadutos.

Na ocasião, os paulistanos ficaram sabendo que as vistorias nos últimos anos vêm sendo realizadas apenas visualmente por funcionários do setor de obras.

Promessas desse tipo, como a experiência demonstra, não raro são lançadas com o intuito de encenar diligência diante do leite derramado. Será preciso acompanhar o caso para verificar se o propósito de Covas se tornará realidade.

Em meio ao corre-corre para responder à opinião pública e tentar administrar o inevitável impacto do incidente sobre o trânsito da metrópole, uma nota kafkiana chegou ao noticiário: o projeto original do viaduto desapareceu.

Aventa-se que os documentos tenham sido consumidos por um incêndio ocorrido na sede da Fepasa, antiga empresa de ferrovias do estado, que firmou convênio com a prefeitura na década de 1970 para a realização da obra.

Até mesmo a viúva do engenheiro Walter de Almeida Braga (1930-2016), responsável pelo projeto da estrutura, foi procurada por representantes municipais —numa tentativa infelizmente frustrada, uma vez que ela já se havia desfeito dos arquivos do marido.

Nesta quarta-feira (21), com a volta dos feriados, a cidade começará a conviver com nova rotina de congestionamentos, apesar das medidas paliativas que serão implementadas pela administração. Mais uma vez a população vai pagar o preço da ineficiência de autoridades e órgãos públicos.

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