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Bianca Tavolari e Gabriel Busch de Brito

Prévias para uma frente democrática

Propomos escolher quem pode ser escolhido na urna

Praça dos Três Poderes, vista a partir do Palácio do Planalto, em Brasília - Pedro Ladeira - 11.mai.16/Folhapress
Bianca Tavolari e Gabriel Busch de Brito

Desde junho de 2013, a base da sociedade tem manifestado seguidas vezes sua rejeição a um sistema político que não se mostrava à altura de sua energia e vitalidade democráticas.

Se a alta taxa de renovação das eleições parlamentares significou o desmonte do modo de funcionamento até então vigente da política oficial, a vitória eleitoral de Bolsonaro apontou para o fato de que grande parte dessa sensação generalizada de que "não me representam!" e de um sofrimento social real foi canalizada para um projeto de extrema direita que alinha o Brasil com outras partes do mundo nas quais a democracia está em risco.

O Quero Prévias foi lançado no segundo semestre de 2016, com uma ideia muito simples e, ao mesmo tempo, muito ambiciosa: escolher quem pode ser escolhido nas eleições, por meio de um processo amplo de debate de ideias e de programa para uma candidatura única do campo progressista.

Por trás disso estava um diagnóstico que só se radicalizou nos últimos tempos: o divórcio entre uma sociedade civil cada vez mais ativa e pulsante --com inúmeros coletivos, organizações e movimentos debatendo intensamente questões de fundamental importância para o país-- e um sistema político cada vez mais fechado em si mesmo.

Nos dois anos que se seguiram, além de colocar em pauta a ideia de prévias e atuar ativamente no processo legislativo da reforma política junto a outros movimentos de renovação política, organizamos debates em torno de temas prementes que reuniram lideranças de diferentes partidos e da sociedade civil.

No mais recente deles, em junho, organizamos uma discussão que colocou pela primeira vez todos os coordenadores de campanha das candidaturas de nosso campo para conversar, entre si e com a sociedade. Essas experiências mostraram na prática que esse tipo de projeto é possível e que estar junto como campo não significa criar uma unidade forçada que apague nossas diferenças.

Entretanto, no presente momento histórico, o compromisso original do Quero Prévias com o aprofundamento da democracia e dos direitos demanda mais do que uma frente ampla de centro-esquerda.

É necessário construir uma frente capaz de reunir todas as forças do espectro político genuinamente comprometidas com a defesa das instituições do Estado de Direito e da manutenção do espaço de convivência pacífica das diferenças. Uma frente cuja força deriva justamente da heterogeneidade de movimentos e instituições que a integram, sem se confundir com ela, e que, por isso mesmo, conseguiria se contrapor aos ataques às instituições e a qualquer violência politicamente motivada contra quem quer que seja.

Ao mesmo tempo, é necessário vincular essa posição defensiva a projetos alternativos de aprofundamento da democracia que consigam fazer frente a um programa autoritário e repressivo que promete reverter inúmeras conquistas democráticas. As próximas eleições municipais aparecem como momento propício para experimentações democráticas, como as prévias, que poderiam lastrear tais projetos.

Não devemos esperar que isso tudo possa vir a partir das cúpulas partidárias. Pelo contrário, restabelecer as normas básicas de convivência democrática e o funcionamento de nossas instituições exige um movimento a partir de baixo que consiga reconstruir sua ligação com a sociedade.

Bianca Tavolari e Gabriel Busch de Brito

Advogada, doutoranda em direito pela USP, pesquisadora do Cebrap e integrante do Quero Prévias; Mestrando em direito pela USP, pesquisador do Cebrap e integrante do Quero Prévias

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