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Luiz Pinguelli Rosa

Advertência ao presidente eleito

Bolsonaro segue linha equivocada sobre o clima

O então secretário-executivo do Fórum Brasileiro de Mudanças Climáticas, Luiz Pinguelli Rosa, em reunião no Palácio do Planalto em 2010 - Sergio Lima - 26.out.10/Folhapress
Luiz Pinguelli Rosa

A indicação do futuro ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, agradou ao agronegócio e deixou preocupadas as ONGs ambientalistas. 

Foi objeto de críticas, durante a 24ª Conferência das Partes da Convenção do Clima da ONU (COP24), realizada em dezembro, na Polônia, a decisão do presidente eleito, Jair Bolsonaro, que levou o governo Temer a cancelar a realização no Brasil da Conferência do Clima da ONU em 2019 (COP 25). O Brasil vinha mantendo uma atitude pró-ativa nessa área desde a Rio 92, ganhando forte prestígio internacional.

O Fórum Brasileiro de Mudanças do Clima (FBMC), criado no governo Fernando Henrique, era presidido pelo próprio presidente da República. De algumas de suas reuniões participaram os presidentes Fernando Henrique, Lula e Dilma --mas jamais Temer. O FBMC teve influência importante na política climática brasileira, contando com a participação dos ministros do Meio Ambiente Marina Silva, Carlos Minc e Izabella Teixeira.

Como secretário-executivo do Fórum, participei de reuniões realizadas especialmente para a definição da posição do Brasil na Conferência do Clima de 2009, em Copenhague. O então presidente Lula fez uma intervenção de grande impacto no evento, anunciando que o país assumiria o compromisso de reduzir suas emissões de gases do efeito estufa projetadas para 2020.

O Brasil teve participação efetiva, mesmo quando o Anexo I da Convenção do Clima listava apenas os países desenvolvidos, pois tinham maior contribuição histórica para o aquecimento global da Terra. Mas agora todos os países devem realizar as Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDC).

Pelo Acordo de Paris de 2015, o Brasil se comprometeu a reduzir em 2025 suas emissões em 37% abaixo dos níveis de 2005, e em 47% em 2030. Mas, seguindo a linha equivocada de Donald Trump, Bolsonaro declarou a intenção de retirar o Brasil do acordo, desconsiderando os sucessivos relatórios do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, na sigla em inglês).

Este reúne cientistas do mundo inteiro, os quais apontam a forte correlação entre o aumento da temperatura global e o aumento das emissões de gases que se acumulam na atmosfera, com destaque para o dióxido de carbono (CO2), produzido pela combustão principalmente do carvão, dos derivados do petróleo e do gás natural.

É fato que as geleiras permanentes estão sendo reduzidas. No intuito de minimizar mudanças climáticas drásticas e suas graves consequências, estabeleceu-se em Paris um teto de 1,5ºC a 2ºC para o aumento da temperatura global. A principal fonte de emissões brasileiras era o desmatamento, que foi reduzido nos últimos dez anos até 2017, mas aumentou no último ano.

São preocupantes algumas declarações divulgadas pela mídia atribuídas ao presidente eleito, Jair Bolsonaro, e a pessoas ligadas a ele. Entre elas, a que diz respeito à agenda modernizadora mundial do século 21. Seu ministro de Relações Exteriores acusa a mudança do clima de ser uma conspiração esquerdista. Lembra uma acusação do tempo da ditadura militar de que os críticos ao acordo nuclear do Brasil com a Alemanha, entre os quais me incluía juntamente com José Goldemberg e Rogério Cezar de Cerqueira Leite, participavam de uma conspiração judaico-comunista.

Luiz Pinguelli Rosa

Ex-secretário executivo do Fórum Brasileiro de Mudanças do Clima (2004-2015); ex-presidente da Eletrobras (2003-2004, governo Lula) e professor de planejamento energético da Coppe/UFRJ

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