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Macron na planície

Cabe ao presidente francês demonstrar habilidade para ouvir quem se sente desassistido

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Manifestante durante ato em Paris contra o aumento de um imposto sobre os combustíveis
Manifestante durante ato em Paris contra o aumento de um imposto sobre os combustíveis - Michel Euler/Associated Press

Por maior que seja seu prestígio, governantes que se distanciam das demandas dos governados tendem à impopularidade e, cedo ou tarde, são forçados a lhes dar satisfação. Nessa situação encontra-se o presidente da França, Emmanuel Macron, que tentou contornar, em vão, uma onda de manifestações de rua em curso há semanas.

Talvez pelo fato de que o direito de protestar esteja tão incorporado à vida política do país o mandatário tenha subestimado os “coletes amarelos” —termo pelo qual ficaram conhecidos os participantes desses atos, por vestirem o acessório que todo motorista deve levar no carro como item de segurança.

Entretanto a resistência e a capacidade de mobilização do grupo logo ficaram claras com o bloqueio de estradas —a exemplo do que caminhoneiros fizeram no Brasil— e o fechamento de lojas por dias. Nesta terça (4), Macron cedeu à principal queixa e suspendeu, por seis meses, o aumento de um imposto sobre os combustíveis.

A medida marca uma inflexão em um governo determinado a empreender uma agenda de reformas, em larga medida necessárias para modernizar o Estado e dinamizar a economia, sem se importar com contestações de oposicionistas ou dos demais cidadãos.

Amparava-se o presidente no grande respaldo das urnas, com 66% dos votos, e no posterior triunfo legislativo que conferiu a seu então recém-fundado partido maioria na Assembleia Nacional.

Aos olhos de Macron, o eleitorado, de fato desiludido com as legendas tradicionais à esquerda e à direita, dava-lhe carta branca para adotar um novo modelo de administração, que o dispensaria de negociar projetos com as demais siglas e de recorrer a canais de mediação, como sindicatos.

Tal era a confiança em si mesmo que, mais de uma vez, afirmou que os franceses esperavam um líder “jupiteriano”, alguém com altivez e autoridade semelhantes ao deus maior na mitologia greco-romana. Não tardou para críticos, com certa razão, enxergarem arrogância.

Eis que o mandatário se vê impelido a descer do Olimpo por um movimento de reivindicações mundanas. Sem comando claro e aparentemente dissociados de interesses partidários, os “coletes amarelos” reclamam do preço da gasolina, mas também da carga tributária em geral e do plano de alterar os regimes de aposentadoria. 

Cabe a Macron demonstrar habilidade para ouvir quem se sente desassistido e empreender sua plataforma de forma gradual. Os franceses, agora, pedem um presidente mais terreno.

editoriais@grupofolha.com.br

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