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Eduardo Oinegue

O tamanho do Brasil

E se todas as multinacionais deixassem o país?

Vista aérea do pátio da montadora alemã Volkswagen, em São José dos Campos (SP) - Roosevelt Cassio - 7.jan.15/Reuters
Eduardo Oinegue

Imagine se, de uma hora para outra, todas as multinacionais saíssem do Brasil. Todas, em todos os setores. Sem aviso prévio, os executivos se mandariam, a produção seria paralisada e as operações, lacradas. 

Para a economia brasileira seria um estrago homérico. Mas o que dizer do impacto financeiro sobre os grupos a que estão ligadas as subsidiárias? Discute-se muito o peso do investimento internacional para o Brasil. A hipotética --e absurda-- fuga das múltis provoca uma reflexão sobre o contrário: o peso do Brasil para o capital estrangeiro. 

Para a maior parte das grandes companhias, a fuga representaria uma queda entre 3% e 9% do faturamento global. É o caso da coreana Samsung (3%), da japonesa Honda (3,3%) e da italiana Fiat (4,7%). Ou da alemã Bayer (8,7%). 

Certas empresas têm uma presença tão forte no imaginário do brasileiro que passam a impressão de que o Brasil é a base do seu balanço. Só que não é. A Volkswagen, por exemplo. Ainda que pujante, a operação local equivale a 2% da operação global do grupo, que inclui várias outras marcas de veículos, além de um importante braço financeiro. 

Os efeitos mais fortes seriam sentidos por um número reduzido de companhias. Caso da Telecom Itália, dona da TIM, da americana AES, do setor de energia e do grupo francês Casino, bem mais dependentes da operação local do que a média. Caso também da americana Bunge, de agronegócio, que tirou daqui em 2017 cerca de um quinto do seu faturamento. Ou ainda do banco espanhol Santander, que lucrou no Brasil 26% do seu lucro mundial no ano passado. Com a provável exceção destas, a fuga não causaria grande estrago nos conglomerados internacionais. Alguns até atenuariam o prejuízo, aumentando a produção em outro país. 

De acordo com o último Censo de Capitais Estrangeiros, feito em 2017 com dados de 2016, o país abrigava US$ 703 bilhões em recursos internacionais, classificados como Investimento Direto no País (IDP).

Esse capital está alocado em participações societárias, iguais ou superiores a 10%, em empresas privadas e estatais. Integram ainda o IDP as "operações intercompanhia", créditos recebidos por uma empresa no Brasil oriundos de outra empresa do mesmo grupo, só que localizada no exterior. O IDP está em 17 mil firmas, na maioria dos casos, com mais de 80% do capital. Agora imagina esse dinheirão indo embora. Seria o caos. 

O objetivo do exercício não é sugerir que o Brasil seja economicamente irrelevante, porque não é. Com 2,5% do PIB global e 2,7% da população mundial, constitui um mercado interno notável. Só sete países têm PIB mais elevado, e quatro, população maior. É ainda uma plataforma importante para exportação.

O propósito é deixar claro que o Brasil não pode se comportar perante o capital estrangeiro como se fosse o melhor endereço da Terra, até porque esse lugar não existe. Tirando EUA e China, os países, em sua quase totalidade, são individualmente pequenos para as empresas globais. É a soma dos pequenos faturamentos porcentuais que as torna robustas.

Nosso desafio é desenvolver vantagens comparativas que nos coloquem na condição de parceiros preferenciais do investidor internacional. O que nos obriga a fazer a lição de casa, começando pela reforma da Previdência, mas não só. Amargamos a 67ª renda per capita do planeta e empacamos numa das últimas posições em avaliações internacionais de desempenho educacional. Disso resultam uma capacidade de consumo limitada e uma mão de obra pouco qualificada.

Há, ainda, os velhos desafios estruturais não enfrentados: carga tributária e criminalidade, que são altas; infraestrutura e segurança jurídica, que são baixas. Temos pressa. Não para evitar a perda de capital, que não ocorrerá. Mas para atrairmos mais e mais dinheiro de fora.

Eduardo Oinegue

Jornalista, consultor de empresas, palestrante e colunista do Grupo Bandeirantes de Rádio e Televisão

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