A se tomar o imobilismo e a falta de perspectiva que acompanharam a maioria dos cubanos por quase 60 anos sob comando castrista, compreende-se certo otimismo, inclusive no plano internacional, quanto às recentes medidas anunciadas pelo governo de Miguel Díaz-Canel, escolhido pelo ditador Raúl Castro como seu sucessor.
A mais chamativa das novidades consiste em permitir que os cidadãos tenham acesso irrestrito à internet pelo celular —até então, só se usavam os aparelhos para checar emails por meio de um programa monitorado pelas autoridades.
Defendida pelo novo dirigente antes mesmo de sua posse, a ampliação desse serviço, em tese, representa avanço no tocante à disseminação de informação.
Entretanto permanece na ilha o monopólio da operadora estatal, que oferece pacotes de dados por valores incompatíveis com o poder aquisitivo de boa parcela da população —o salário médio no país gira em torno de US$ 30 (R$ 117). Na prática, limita-se pelo preço o alcance dessa concessão.
Na seara econômica, é bem-vindo o afrouxamento da regulação sobre o embrionário setor privado —ainda que motivado por críticas de pequenos empresários. Entre as flexibilizações está a autorização para uma pessoa ter mais de uma licença comercial. O dono de um bar pode agora ter também um salão de beleza, por exemplo.
Espanta, porém, o grau de intromissão do Estado sobre questões que em nada lhe deveriam competir, tal como o número de lugares de um restaurante —havia um limite, ora derrubado, de 50 cadeiras, não importando o tamanho do estabelecimento.
Mesmo ainda com tantas amarras, o empreendedorismo tem crescido nos últimos anos. Hoje são 589 mil os cubanos com um negócio próprio, ante 157 mil em 2010, segundo o diário oficial Granma.
Percebe-se um esforço do regime de sinalizar progresso em relação ao período sob os Castros, mas com a evidente preocupação de manter o controle sobre o ritmo de tais mudanças, especialmente no campo da abertura política.
A própria imagem de Díaz-Canel como dirigente moderno, disposto a reoxigenar Cuba, esbarra na fidelidade ao anacrônico modelo adotado pelos revolucionários comunistas. Afinal, em suas mensagens nas redes sociais, faz questão de lembrar: “#somoscontinuidad”.
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