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A sanfona do PSDB

É difícil deixar de ver o oportunismo da declaração de João Doria sobre o futuro do partido

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O governador de São Paulo, João Doria, durante entrevista à imprensa no Palácio do Planalto, em Brasília, em janeiro deste ano
O governador de São Paulo, João Doria, durante entrevista à imprensa no Palácio do Planalto, em Brasília, em janeiro deste ano - Adriano Machado/Reuters

Para o tucano João Doria, ex-prefeito de São Paulo e atual governador do estado, o PSDB deverá mudar, tornando-se um partido de centro que terá relações respeitosas tanto com a esquerda quanto com a direita, em todos os seus matizes. 

Afora o fato de o PSDB jamais ter se afastado do centro do espectro político, não há nada de impróprio na afirmação. O país sem dúvida se ressente da falta de uma agremiação capaz de dar densidade eleitoral às forças moderadas. 

É difícil, no entanto, deixar de ver o oportunismo da declaração. Doria passou toda a campanha tentando surfar na onda conservadora que entronizou Jair Bolsonaro (PSL). Bateu o quanto pôde no PT e em tudo que tivesse um mínimo de parecença com a esquerda. 

Essa, porém, era a lógica da eleição. O jogo agora mudou. O governador sabe que o nicho da direita está ocupado por Bolsonaro. Mesmo que o presidente não tente se reeleger, o campo que ele representa tem outro candidato potencial, o ministro da Justiça, Sergio Moro.

Doria até caminha com mais conforto pela direita do que pelo centro, mas sabe que seria tolice insistir nessa via congestionada. 

E o que o governador diz sobre o PSDB tem importância porque ele se tornou a principal força da agremiação. Fernando Henrique Cardoso, o maior nome da sigla, aos poucos sai de cena. Aécio Neves precisa lidar com a Justiça. José Serra, em menor grau, também foi abatido pela Lava Jato. E Geraldo Alckmin terminou como grande perdedor do pleito presidencial.

Doria, por seu turno, governa o maior e mais rico estado do país. Apesar de ele ter se indisposto com muitos dirigentes e militantes do partido, poucos duvidam de que acabará dominando a legenda, por ser um dos poucos com condições de oferecer perspectiva de poder.

Não deixa de ser curioso notar o movimento de sanfona do PSDB. O partido surgiu, nos anos 80, como dissidência de esquerda do PMDB. A ideia de seus fundadores era afastar-se de figuras como José Sarney e Orestes Quércia e adotar uma linha inspirada nas social-democracias europeias.

Para chegar ao poder e governar, porém, FHC aliou-se ao PFL, o que arrastou o partido mais para a direita. Nesse meio tempo, o PT moderou seu discurso, ocupando o espaço da centro-esquerda, para o qual o PSDB nunca voltou. Agora, com o protagonismo do PSL e o retorno do DEM, mais uma vez os tucanos estão em busca de um ninho.

editoriais@grupofolha.com.br

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