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Bolsonaro corrige bravatas, mas não aproveita o tempo para explicitar plataforma de reformas

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O presidente Jair Bolsonaro participa do Fórum Econômico Mundial, em Davos
O presidente Jair Bolsonaro participa do Fórum Econômico Mundial, em Davos - Xu Jinquan/Xinhua

Foi satisfatória, embora sucinta demais, a primeira fala do presidente Jair Bolsonaro (PSL) fora do Brasil. No principal auditório do Fórum Econômico Mundial, em Davos (Suíça), o mandatário vestiu bem o figurino protocolar e, diante de potenciais investidores, privilegiou a sua agenda em prol dos negócios.

Tratou também de corrigir algumas bravatas infelizes que haviam surgido na retórica presidencial e em manifestações do núcleo ideológico ao seu redor. O compromisso com a preservação ambiental talvez seja a mais alvissareira dessas mensagens reparadoras.

Ao lembrar seus espectadores de que o Brasil utiliza parcela minoritária de seu território para atividades agropecuárias que ajudam a alimentar o planeta, Bolsonaro afirmou ser perfeitamente possível o país avançar na conciliação de objetivos ecológicos e produtivos.

A confirmação, pelo próprio presidente após o discurso, de que o país permanecerá no Acordo de Paris —pacto pelo controle dos gases que favorecem o aquecimento planetário— reforçou o recado.

Para quem flerta com um ideário estapafúrdio e incoerente chamado antiglobalismo, a simples presença benfazeja no palco coruscante do “globalismo”, além dos votos por um mundo de paz, liberdade e democracia, constitui um alívio.

Colocam-se pragmatismo e bom senso onde antes vicejou o irracionalismo muitas vezes delirante.
No capítulo das reformas econômicas, no qual se ressalta a previdenciária, a intervenção do presidente deixou mais a desejar.

Havia tempo para detalhar melhor as linhas mestras do projeto, circunscrever parâmetros e dimensionar a distribuição dos sacrifícios entre as categorias. Havia também altíssimo interesse da plateia. Nem o tempo nem o interesse foram aproveitados, entretanto.

Os desdobramentos desse debate pelo visto inconclusivo dentro do governo puderam ser divisados apenas nos bastidores do encontro nos Alpes suíços, ainda assim em meio a ruídos e lacunas.

A cota dos militares na divisão dos custos da reforma parece convergir para o alongamento de seu tempo de contribuição, dos atuais 30 anos para 35. O anúncio do projeto completo para a Previdência ficaria para logo após a cirurgia abdominal de Bolsonaro, programada para a semana que vem.

Outra relação que a esta altura vai se explicitando é entre o avanço do noticiário policial envolvendo o senador eleito Flávio Bolsonaro, de um lado, e a dependência presidencial do sucesso da agenda de reformas econômicas, do outro.

As suspeitas contra o filho prejudicam a imagem de Jair Bolsonaro na agenda dos costumes, pivô do seu discurso eleitoral moralista. Sem arrancada econômica no horizonte, não haverá vetor capaz de contrabalançar esse desgaste.

editoriais@grupofolha.com.br

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