A eleição de Jair Bolsonaro marca um ponto de virada nos rumos da economia pela promessa que traz de uma redução radical do aparelho estatal e do impacto que representava sua interferência na economia.
No momento em que o crescimento da economia mundial desacelera, o Brasil desperta um forte interesse do investidor externo. No último dia 8, o Banco Mundial divulgou o relatório semestral Perspectivas da Economia Global com um título pouco alvissareiro: Darkening Skies ("Céus Escurecendo"). A economia chinesa aprofunda o processo de acomodação com menos crescimento e se fala numa possível recessão nos EUA no fim deste ano.
Se por um lado menos crescimento no mundo é uma má notícia, por outro representa uma oportunidade para o país. Na América Latina, nossa economia oferece mais que as de Argentina e México; nossos indicadores macroeconômicos estão bem ajustados. Fechamos 2018 com inflação abaixo da meta, e o déficit em transações correntes deve ficar próximo a 1% do PIB. A economia cresce aquém do seu potencial, mas cresce.
O real se aprecia frente ao dólar, a Bolsa sobe, e a Selic se mantém em seu nível mais baixo da história. O que destoa são os indicadores fiscais. O déficit nominal do setor público passa dos 7% do PIB.
O investidor estrangeiro busca agora uma boa desculpa para trazer seus recursos ao Brasil. Essa desculpa tem nome e sobrenome: reforma da Previdência.
O que ainda não surgiu foi uma narrativa uníssona em torno da reforma. As vantagens de sua aprovação são conhecidas. No dólar podemos calcular 50 centavos a menos com ela aprovada e 50 centavos a mais sem ela. Há uma espera silenciosa por uma leve coordenação de narrativas a partir do Palácio e do Ministério da Economia. Segundo um histórico investidor americano: "Não precisam dar detalhes sobre conteúdo, precisam dar detalhes de que estão na mesma página".
Hoje o governo ainda tem o benefício da dúvida. Nem Dilma nem Temer tiveram essa vantagem.
Além da reforma, tenho ouvido que uma reforma tributária seria uma linha paralela perfeita, por mais difícil que seja colocá-la alinhada com a da Previdência. Além da independência do BC, a cessão onerosa e a privatização da Eletrobras (não acreditam muito na da Petrobras). A simplificação tributária é muito aguardada, embora de forma cética, pois há a noção de que no Brasil a "burocracia cresce para sustentar o crescimento da burocracia".
Sobre os novos nomes, interessante perceber que o de Marcelo Guaranys gerou otimismo apenas menor do que o do próprio Paulo Guedes. A razão é o desconhecimento em relação a Onyx Lorenzoni. Parte do mercado vê que Guaranys na Secretaria Executiva é a forma mais eficaz de mostrar aos secretários e ao ministro como a máquina burocrática e a cabeça dos parlamentares funcionam.
Há anos os olhos do mercado externo não prestavam tanta atenção em um Ministério da Economia. Olha-se também a Casa Civil, mas apenas como viabilizadora. A confiança depende dessa coordenação, pois o benefício da dúvida não costuma durar tanto.
O benefício da dúvida e a espera por uma narrativa
Há boa vontade do investidor externo com governo
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