O verão dos coliformes

Não faltam mar e areia neste país, entretanto sobram germes

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Praia do Perequê é um dos 18 pontos em Ilhabela considerados impróprios para banho
Praia do Perequê é um dos 18 pontos em Ilhabela considerados impróprios para banho - Zanone Fraissat/Folhapress

A onda de calor que assola o Sudeste empurrou multidões para as praias. Não faltam mar e areia neste país abençoado com mais de 7.000 km de litoral; sobram, entretanto, coliformes fecais.

A concentração desses germes compõe o principal indicador de balneabilidade das praias. Acima de 10 mil unidades por litro de água, medidas por cinco semanas consecutivas, elas deixam de ser consideradas próprias para banhistas.

Em vários lugares, como no arquipélago de Ilhabela (SP), essa condição é sinalizada com bandeiras coloridas. Na semana passada, o visitante precisou procurar muito para achar um sinal verde, como mostrou esta Folha: 18 de 19 praias monitoradas estavam impróprias.

De janeiro a novembro, metade das praias do município se encontrava na situação. Em dezembro e janeiro, época dos turistas e das chuvas, o deficiente sistema de tratamento de esgotos ficou sobrecarregado, e a poluição extravasou.

Não é um exemplo isolado. No litoral norte do estado, as praias recomendáveis eram 57 em 2017 e caíram para 31 em 2018.

A tendência se observa Brasil afora. Nada menos que 399 das 1.188 praias acompanhadas foram tidas como ruins ou péssimas em 2018. No ano anterior eram 332; o total de locais impróprios cresceu 17%.

Coliformes fecais, como o termo sugere, têm origem em dejetos humanos. Esgotos não coletados, ou não tratados de forma adequada, acabam desaguando no oceano. Em Ilhabela, por exemplo, coleta-se só metade dos efluentes.

Assim está o saneamento por todo o país: 52% de esgotos coletados, 45% tratados. Um avanço pífio desde 2011, quando os respectivos percentuais eram 48% e 38%.

O governo federal precisa fazer muito mais para erradicar esse indicador vergonhoso de subdesenvolvimento. A Lei de Saneamento (2007) estimava que seriam necessários R$ 304 bilhões para universalizar o serviço, mas menos de um quarto disso chegou às prefeituras.

Dada a indigência das contas públicas nacionais, parece evidente que o dispêndio não virá tão cedo da União. Só com investimento privado o país sai do lodaçal, mas o Planalto não logrou desenhar um modelo que não alivie apenas os grandes centros urbanos, onde o serviço seria rentável.

E dinheiro, só, não resolve. Vários municípios menores carecem de capacidade técnica para desenvolver e implantar projetos de saneamento e por isso necessitam reunir-se em consórcios para solucionar o problema em escala regional.

editoriais@grupofolha.com.br

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